A Globo tem nas noites quinta feira duas series, já em seus
4 episódios exibidos: “Como Aproveitar o Fim do Mundo” e “Suburbia”. “Como
Aproveitar O Fim do Mundo” é a primeira a ser exibida. Escrita por Alexandre
Machado e Fernanda Young – de “Os Normais”, a última série boa que escreveram
-, a serie conta a historia de Ernani (Danton Mello) e Kátia (Alinne Moraes) e
todas as peripécias para aproveitar a vida até o dia 21 de dezembro de
2012, o fim do mundo para os maias.
Clichês baratos, frases sem sentido e um humor questionável
permeiam a serie. Mesmo assim os autores trazem uma melhora em relação à sem
graça “Macho Man”. O que segura a serie é a ótima interpretação de Alinne
Moraes, mesmo forçadíssima – o que realmente deve ser, afinal ela é uma louca
que acredita no fim do mundo e quer fazer tudo o que nunca fez, enquanto Ernani
é um “solteiro de 30 anos limpinho”. Kátia ajuda Ernani a realizar todos os
desejos que ele não realizou no sexo, na vida, no trabalho...
Kátia e Ernani: aventuras nonsense não garantem graça |
“Como Aproveitar o Fim do Mundo” não traz novidade, mas não
compromete. Os autores mantem o mesmo humor nonsense de outras series, Danton
Mello mantém os mesmos tiques de outros personagens, os clichês de
arrependimento e fim do mundo estão lá e Alinne Moraes se sobressai em relação
ao parceiro de cena.
Conceição (Érika Januza): samba, funk e Madureira |
A segunda serie – o que é uma pena, pois merecial um horario
melhor –“Suburbia” mostra o que Luis Fernando Carvalho – de “Hoje é Dia de
Maria”, “A Pedra do Reino”, “Capitu” e “O que querem as mulheres?” – sabe fazer
de melhor, ao mesmo tempo em que se reinventa. As obras anteriores eram
“classudas”, sem apelo popular. Suburbia é o oposto de tudo isso: favela,
samba, povo, drama e humor. Como que num documentário, retrata a vida de
Conceição – mais tarde, Suburbia – uma jovem que sai de minas de carvão em
Minas Gerais e parte para o “sonho” do Rio de Janeiro. Mas ela o sonho, em
alguns momentos, tornam-se pesadelos: menina negra que cai numa cilada, é presa,
sofre na prisão de menores e foge, sofre estupros, sempre fugindo. Mas isso não
impede a poesia das cenas, principalmente as que mostram a religiosidade dos
personagens. Os atores são “não-atores”, o que aumenta o desafio mas não
compromete a qualidade. Érika Januza, a protagonista, é tão boa – ou melhor –
que muitas atrizes por aí.
Ainda tem Jéssica (Ana Pérola), a antagonista de Suburbia, a "rainha do baile", até a chegada de Conceição. Ana Pérola é o retrato da inveja, personificada numa mulher forte e impetuosa. Ana Pérola brilha, assim como Érika Januza.
Jéssica (Ana Pérola) em "Suburbia" |
Impossível não lembrar “Cidade de Deus”, até porque Paulo Lins
– escritor do livro que deu origem ao filme – também escreve “Suburbia”. As
favelas e problemas sociais estão lá e claro, não podia faltar a câmera na mão
frenética. Outra referência é o cinema blaxplotation, que Tarantino já usou em
“Jackie Brown”: mulher negra, música negra, problemas sociais. Mas Luis
Fernando Carvalho imprime seu estilo na fotografia, quente, e na condução das
cenas dramáticas. Cenas que, desde Capitu, são catárticas: em várias cenas
pesadas, por exemplo quando Conceição é estuprada pelo namorado da patroa no
primeiro episódio. Enquanto isso toca um romântico Roberto Carlos.
Suburbia, sem receio algum, é a melhor coisa que a Globo fez
em 2012.
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