sexta-feira, 23 de novembro de 2012

"Suburbia": horário ingrato para o melhor de 2012



A Globo tem nas noites quinta feira duas series, já em seus 4 episódios exibidos: “Como Aproveitar o Fim do Mundo” e “Suburbia”. “Como Aproveitar O Fim do Mundo” é a primeira a ser exibida. Escrita por Alexandre Machado e Fernanda Young – de “Os Normais”, a última série boa que escreveram -, a serie conta a historia de Ernani (Danton Mello) e Kátia (Alinne Moraes) e todas as peripécias para aproveitar a vida até o dia 21 de dezembro de 2012,  o fim do mundo para os maias. 

 Clichês baratos, frases sem sentido e um humor questionável permeiam a serie. Mesmo assim os autores trazem uma melhora em relação à sem graça “Macho Man”. O que segura a serie é a ótima interpretação de Alinne Moraes, mesmo forçadíssima – o que realmente deve ser, afinal ela é uma louca que acredita no fim do mundo e quer fazer tudo o que nunca fez, enquanto Ernani é um “solteiro de 30 anos limpinho”. Kátia ajuda Ernani a realizar todos os desejos que ele não realizou no sexo, na vida, no trabalho...

Kátia e Ernani: aventuras nonsense não garantem graça
“Como Aproveitar o Fim do Mundo” não traz novidade, mas não compromete. Os autores mantem o mesmo humor nonsense de outras series, Danton Mello mantém os mesmos tiques de outros personagens, os clichês de arrependimento e fim do mundo estão lá e Alinne Moraes se sobressai em relação ao parceiro de cena.

Conceição (Érika Januza): samba, funk e Madureira
A segunda serie – o que é uma pena, pois merecial um horario melhor –“Suburbia” mostra o que Luis Fernando Carvalho – de “Hoje é Dia de Maria”, “A Pedra do Reino”, “Capitu” e “O que querem as mulheres?” – sabe fazer de melhor, ao mesmo tempo em que se reinventa. As obras anteriores eram “classudas”, sem apelo popular. Suburbia é o oposto de tudo isso: favela, samba, povo, drama e humor. Como que num documentário, retrata a vida de Conceição – mais tarde, Suburbia – uma jovem que sai de minas de carvão em Minas Gerais e parte para o “sonho” do Rio de Janeiro. Mas ela o sonho, em alguns momentos, tornam-se pesadelos:  menina negra que cai numa cilada, é presa, sofre na prisão de menores e foge, sofre estupros, sempre fugindo. Mas isso não impede a poesia das cenas, principalmente as que mostram a religiosidade dos personagens. Os atores são “não-atores”, o que aumenta o desafio mas não compromete a qualidade. Érika Januza, a protagonista, é tão boa – ou melhor – que muitas atrizes por aí. 
Ainda tem Jéssica (Ana Pérola), a antagonista de Suburbia, a "rainha do baile", até a chegada de Conceição. Ana Pérola é o retrato da inveja, personificada numa mulher forte e impetuosa. Ana Pérola brilha, assim como Érika Januza.

Jéssica (Ana Pérola) em "Suburbia"
Impossível não lembrar “Cidade de Deus”, até porque Paulo Lins – escritor do livro que deu origem ao filme – também escreve “Suburbia”. As favelas e problemas sociais estão lá e claro, não podia faltar a câmera na mão frenética. Outra referência é o cinema blaxplotation, que Tarantino já usou em “Jackie Brown”: mulher negra, música negra, problemas sociais. Mas Luis Fernando Carvalho imprime seu estilo na fotografia, quente, e na condução das cenas dramáticas. Cenas que, desde Capitu, são catárticas: em várias cenas pesadas, por exemplo quando Conceição é estuprada pelo namorado da patroa no primeiro episódio. Enquanto isso toca um romântico Roberto Carlos. 

Suburbia, sem receio algum, é a melhor coisa que a Globo fez em 2012.

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