quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Torcer: direito ou vontade de aparecer?


Amor ao time ou vontade de aparecer?

Um jogo sem torcida. Mas quem disse que ela fez falta? Talvez tenha feito, afinal ela é parte – apenas uma parte – do espetáculo do futebol. Mas a vitoria do Corinthians em cima do Millonarios por 2 a 0 só fez provar que torcida nenhuma é maior que um clube, ainda que alguns teimem em colocar a paixão, o amor e a loucura, acima do time.

Aliás, o Corinthians é maior que a Libertadores. Um campeonato que ao invés de evoluir ano a ano, se mostra desorganizado e sem prestígio. Os fanáticos vão dizer que “foi só o Corinthians entrar que estragou”. Não. De maneira alguma. A desorganização do futebol sul-americano vem de longa data – vide a estrutura dos estádios em outros países, a segurança porca, os escudos protegendo jogadores ao cobrar escanteios, a briga na final da Copa Sulamericana entre São Paulo x Tigres, etc – e culminou na tragédia em Oruro (não é mais necessário discutir se a punição é justa ou não).

Cabia ao time alvinegro acatar a decisão. Mas não. Compararam a decisão até com a ditadura, com a inquisição, uma decisão da época das cavernas – palavras ditas pelo presidente (veja bem, pelo presidente) do clube, Mário Gobbi. A diretoria, parecendo uma criança mimada – tal qual parte de seus torcedores – bate de frente e “joga a bola” para a CONMEBOL, que a responsabilidade é dela, etc. Não que estejam errados. Mas aceitar a decisão até o julgamento seria mais íntegro.

Para piorar a situação, alguns torcedores motivados por, talvez, uma forte vontade de aparecer mascarada pela “garantia de direitos”, resolveu entrar na justiça para garantir a entrada no estádio do Pacaembu. Quatro torcedores ganharam este direito. Hoje estão nos jornais, programas esportivos e derivados. Aquele velho complexo de torcedor: quer ser maior que o time, quer mostrar que é o mais apaixonado. Pura carência e cada vez mais torcedores entrarão com esse recurso. A falta do que fazer nunca foi tão escancarada.

Mas, dos males, o menor: a “invasão” convocada por alguns imbecis fanáticos na Praça Charles Müller foi de alguns poucos corinthianos e nada de (mais) problemas.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Mancha Verde: injustiçada ou incompetente?

Mancha Verde reeditando o enredo de 2006 (!) no carnaval 2014. Ao cair para o grupo de acesso, a escola abdica de falar do centenário do time oriundo, o Palmeiras, para levar à avenida novamente um enredo que fala de perseguições, injustiças, etc.

À primeira vista pode parecer bonito, afinal, coitada da Mancha, caiu, uma pena. Mas, ao analisar friamente a situação, a escola desmerece o grupo de acesso sem pestanejar. A justificativa é que no acesso o Palmeiras não teria o destaque que merece  e que teria no Grupo Especial (com toda a justiça). Ao mesmo tempo diz que o acesso é disputado, etc, etc. Então o Palmeiras não teria condições de ser enredo no acesso? O Palmeiras foi deixado para 2015. Isso SE a escola voltar ao especial, o que é um risco num acesso disputado entre Vila Maria, Camisa Verde e 3º Milênio.

Uma escola tão jovem, reeditar um enredo tão recente (apenas 8 anos) é, no mínimo, falta de criatividade e mais uma oportunidade de mostrar que falta muito para a Mancha ter um lugar entre as boas e grandes escolas de samba. Foram nove anos no especial e nenhum campeonato (três quartos lugares seguidos, o que não é grande coisa). Se as outras caem, não é injustiça. Mas se a Mancha cai, é injustiça, ela é perseguida, e etc, etc, etc.

Além disso, ao invés de escrever – e manter – o enredo na historia, vai “matá-lo” e não reescrevê-lo. É como uma novela que é reprisada várias vezes: perde o encanto. E um samba e um enredo desse não merece isso. Mesmo que na época o enredo não tenha sido julgado, não é hora de “gastar” este enredo. Em 2006 a Mancha disputou sozinha o “grupo de escolas esportivas”, já que a Gaviões da Fiel ganhou, na justiça, o direito de desfilar com as outras escolas do grupo especial.

Uma escola que se mostrava “forte” e determinada a ser campeã do especial não me parece “injustiçada” ou “perseguida” a ponto de reeditar um enredo tão recente. Me parece despreparada,  com uma forte amargura – ainda que neguem – e correndo um grande risco de não voltar ao especial.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Carnaval 2013: modesto, mas de coração


Num Carnaval que infelizmente terá que ser nivelado por baixo – salvo algumas poucas exceções – a festa em São Paulo não foi das melhores, com um nível inferior a 2012.

Mocidade: rumo ao bicampeonato
Das exceções, Mocidade Alegre desponta para o bicampeonato, com um desfile impecável e superior ao do questionado título do ano passado. A Nenê voltou, para alegria de todos! A mais querida deu letra, samba e tudo o mais para mostrar que está de volta ao seu lugar. Celsinho Mody conseguiu fazer um milagre com esse samba: foi um sacode no Anhembi. E, a última exceção foi a Tucuruvi que, com um desfile aparentemente simples, soube usar a criatividade a seu favor, juntamente com o samba e a bateria, impecáveis. Destaco também Tom Maior e Dragões da Real, que fizeram desfiles muito superiores ao do ano passado. A Tom surpreendeu com um enredo que já tinha nascido “rebaixado”: a história do prazer. Apesar do tema, a escola não apelou para mostrar essa historia. Já a Dragões, em apenas seu segundo ano, mostra que não está de brincadeira. 

De volta ao seu lugar: Nenê volta para ficar
 De resto, ou mais do mesmo ou aquela coisa “eu esperava mais”. Não vejo Vai-Vai concorrendo ao título. Apesar da propaganda feita em cima do enredo sobre vinhos, a escola veio inferior ao ano passado e levou à avenida um dos carros alegóricos mais feios do ano: o último, que representava uma geleira com telões. Pura falta de criatividade. Outra que decepcionou foi a Gaviões. O pior desfile da escola no grupo especial e se cair não será surpresa. Mais do mesmo foram Rosas de Ouro (mas que concorre ao título junto com Mocidade), Mancha Verde, que nunca vem para ganhar, mas para voltar ao desfile das campeãs. Vila Maria também fez um desfile bem aquém do esperado e mostra que ainda falta muito para ser campeã do carnaval pela primeira vez.

Tucuruvi prova que para fezer festa, não precisa de luxo
A Império mostrou que, mesmo sem verba, pode fazer um carnaval decente. Não volta às campeãs, mas não cairá. A bateria deu um sacode, o samba funcionou. As alegorias são de gosto duvidoso, mas é que tinha para hoje.

A Águia de Ouro trouxe o melhor samba do ano e o que mais funcionou na avenida, mas o desfile foi para fazer João Nogueira se revirar no túmulo. X-9 Paulistana fez um desfile fraco, o samba não ajudou e corre perigo. A Tatuapé se esforçou mas ainda não tem forças para manter-se na elite.

E assim foi o Carnaval de São Paulo. Nivelado por baixo, com uma disputa polarizada entre duas escolas para a vitória, uma imensidão de vagas para as campeãs e quatro candidatas ao descenso. É esperar terça-feira, ás 16 horas, na apuração. Que desta vez não terá ninguém para rasgar notas ou atirar cadeiras. Mas o terço, o patuá, o colar e tudo o mais estarão lá, com muita força e união.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Gabi x Malafaia


Inevitável falar do assunto que iniciou a semana de forma bombástica: a entrevista de Silas Malafaia à Marília Gabriela no “De Frente Com Gabi”, no último domingo. 

Não assisti no dia em que foi exibida. Assisti depois de comentários efusivos vindos dos dois lados: os evangélicos dizendo que Malafaia “noucateou” Gabi; e o restante, criticando a postura adotada pelo pastor e elogiando Gabi por defender um ponto de vista, coisa que raramente faz em seus programas. Veja abaixo a polêmica entrevista:






Acho que, por já ter ouvido todo tipo de comentário, achei a entrevista um pouco menos bombástica do que falaram. Mas, vamos aos fatos: foi um debate interessantíssimo, com erros e acertos de ambos.

Malafaia se mostra uma personalidade forte, por vezes agressiva e estúpida, o que prejudica a imagem do pastor frente a outras pessoas que não seguem suas ideias. Já Gabi, debateu e confrontou as ideias do pastor de forma veemente, adotando uma postura pouco comum, por vezes esquecendo de entrevistar (que é a função qu elhe cabe) para dar o próprio ponto de vista. Enquanto isso, Malafaia usou o programa como um palco de um culto, dando palestras, discursos intermináveis e voltas e mais voltas em perguntas simples. Aliás, essa é uma especialidade do pastor: falar muito rápido, a ponto de fazer o ouvinte se perder no raciocínio dele. Malafaia é enfático em suas posições, tornando-se por vezes agressivo. Para quem conhece, é algo visto como “natural”. O pastor chamou Marília diversas vezes de “ô filha” ou então “querida”.

Malafaia usou e abusou de dados porcentuais para explicar casos de homossexualidade (para ele, homossexualismo, uma doença), sem mostrar ou citar qualquer tipo de fonte. Embasado por dogmas e preceitos religiosos, o pastor critica e usa esses mesmos dados para explicar coisas sem sentido. Enquanto isso, Marília confrontava, dizendo que sim, há dados e estudos. Malafaia, ao contrário, disse várias vezes que “a genética não tem como comprovar” ou fazendo pré julgamentos (estes que ele tanto condena) de casais homossexuais; sobre indícios de como uma criança pode se tornar um, sendo que como ele pode garantir isso?

Mas o erro mais grave do pastor foi quando citou a religião islâmica. Ao ser questionado, disse:  “é um radicalismo horroroso, que manda matar, que não aceita os outros”. Ele, como teólogo, deveria ter expressado de outra maneira. Ao julgar (como um Deus), o pastor considera todos os islâmicos como assassinos e terroristas. Como ele mesmo disse no início da entrevista, sobre a materia na Forbes, o ser humano pega um mau exemplo e usa para o resto de um grupo. No exemplo, é como se todos os pastores fossem ricos e ele, claro, condenou. Mas usou esse mesmo racicínio para falar dos islâmicos. Vai entender...

A entrevista só serviu para reforçar uma imagem negativa que as pessoas têm do pastor e da religião evangélica. Por outro lado, os evangélicos o consideram o baluarte de seus direitos e crucificaram Marília Gabriela. Enquanto isso, as minorias vão se sobrepujando ao restante da população, querendo direitos exclusivos, mas cerceando o do outro e brigando entre si. Muito melindre, senhores.

Para saber mais:
Gabi fala sobre a entrevista: http://mauriciostycer.blogosfera.uol.com.br/2013/02/05/me-senti-na-obrigacao-de-dar-o-meu-ponto-de-vista-diz-gabi-sobre-entrevista-com-malafaia/

Geneticista explica os equívocos de Malafaia: http://www.youtube.com/watch?v=3wx3fdnOEos


domingo, 3 de fevereiro de 2013

O povo aplaude e está tudo certo

2013 tem sido um ano diferente dos outros no samba de São Paulo. Não só pela confusão na apuração em 2012, mas no samba como ritmo e espetáculo. Os ensaios técnicos só corroboram essa visão.


Ao acompanhar a maioria das escolas de samba, é visível o esforço da maioria delas em mostrar o que realmente importa: o ritmo. Império de Casa Verde, X-9 Paulistana, Rosas de Ouro, Tucuruvi, entre outras, vem com breques e bossas diferenciadas. O Vai-Vai continua com uma bateria forte, ousando em poucos momentos. É o estilo do quase lendário Mestre Tadeu e isso vai demorar para ser alterado. Enquanto isso, a Mocidade Alegre, outra boa bateria, vem com coreografias, uma marca que dura há algum tempo.

E isso cansa.

Ih! A bateria sumiu? Não, foi dançar
As “paradinhas” e breques das outras escolas não causam mais a comoção e a empolgação de outrora. O ritmo é deixado de lado para a realização de coreografias mirabolantes, círculos, rodas, cruzamentos, embaralhamentos, enfim... Um espetáculo visual que arranca aplausos efusivos de uma plateia que é tomada não pelo ritmo – este aparentemente deixado de lado – mas pelo apelo visual que causa. Abaixo, apartir dos 5:05, a coreografia nova que a escola trará para a avenida. Não achei um vídeo com a visão da arquibancada, mas por aqui já dá para ter uma noção do "pirambolê":




Nenhuma outra bateria faz isso nesse grau de elaboração de coreografia. No máximo uma viradinha, um passo pro lado, pro outro... Vejo que é uma preocupação da Morada do Samba em, a cada ano, mostrar algo diferente. Na coreografia, claro, pois o ritmo é o mesmo, as características são as mesmas, a “paradona” esta lá... Mas e aí? Vale a pena deixar a criatividade no RITMO para criar uma ala coreografada na bateria?

As voltas que a bateria faz são aplaudidas de forma inconstestável. Claro, são difíceis e necessitam treino. A deste ano é de uma ousadia sem igual, e o caracol está lá, como se fosse uma obrigação desta escola em fazer isso. Mestre Sombra é um dos melhores de São Paulo, mas não ouço (pois ver cansa) mais um ritmo diferente numa bateria que tem, como única função manter o ritmo e a criatividade nas bossas. Dancinhas não contam ponto, não interferem na evolução. Pode até ser uma forma de “pressão”, já que o povo fica em êxtase e os jurados podem, talvez, ficar “impressionados”... Besteira, para não dizer outra coisa.

Essa é uma característica da escola, que tem uma presidente espertíssima em arrancar aplausos de uma plateia surda, que preza não pelo som, mas pelo que vê. Mas espero, um dia, que dancinhas e coisas do tipo acabem de uma vez por todas. 

PS.: A bateria (e harmonias e, claro, a presidente), ao terminar o ensaio (já atrasado) depois de o cronômetro estar zerado, sair da dispersão e voltar para a pista foi de um desrespeito sem tamanho. Mas o povo aplaude, e está tudo certo.