quinta-feira, 20 de setembro de 2012

VMB pra gente grande e o café coado na calcinha

Café coado na calcinha: Gaby Amarantos domina o VMB 2012

Por muitos e muitos anos o VMB é achincalhado. Com as redes sociais, essa crucificação ficou mais forte. Afinal, música mexe com os brios dos fãs elouquecidos ou daqueles que só gostam de boa música – ou ruim, depende do ponto de vista. A cada ano, a MTV tem a tendência de destacar um artista, um estilo. Só para citar exemplos recentes, Restart em 2010 e Criolo em 2011 dominaram a premiação. Em 2011, o rap e o hip-hop nacional voltaram com toda a força, com ótimas produções além de Criolo. Mas 2012 foi diferente. Ainda bem. E o fato de excluir o sertanejo da premiação é irrelevante por motivos óbvios. Mas a emissora não resistiu e, de forma bem humorada, colocou um “tchu tcha” ali no meio, com o Massacration.

Emicida: rebelde sem causa
A premiação dessa vez não teve um apresentador. O que poderia ser um risco, mas se mostrou uma opção viável ante alguns apresentadores sem graça ou com piadas forçadas. Isso fica para os apresentadores dos prêmios, com suas (mal) ensaiadas piadinhas. Planet Hemp abriu o VMB, como nos velhos tempos. Os shows de Emicida, Projota e ConeCrewDiretoria ficam no chinelo. Fica claro que xingar (Dedo na Ferida, do Emicida, é um festival de “foda-se”) não é a veia do rap. Rapé contestamento, denúncia social. O Emicida, bem... Não quero revoltar os fãs, mas é um vendido para a indústria. Não que ele esteja errado, mas é assim que a banda toca. Mas me soa hipócrita. Mas tá certo, deixa ele xingar bastante.

Vamos aos prêmios. Vanguart foi líder de indicações, mas ganhou apenas uma: melhor banda. Criolo manteve o domínio no cenário do rap e levou o prêmio de melhor artista masculino. O rap também esteve presente com Emicida (melhor música com “Dedo na Ferida”. Tsc tsc tsc...) - Wado também ganhou o prêmio, com a música "Com a ponta dos dedos - Projota (revelação do ano) e Bnegão & Seletores de Frequência com melhor disco, “Sintoniza Lá”. A aposta MTV do ano ficou com O Terno. Ponto alto da festa: Restart sendo vaiado ao receber o prêmio de Hit (?) do Ano com “Menina Estranha”.

Mas, de tudo isso, nada mais importante que ver Gaby Amarantos sendo o destaque dessa premiação. A paraense levou os prêmios de melhor capa por “Xirley”, melhor artista feminino, e artista do ano. Uma vitória da música popular brasileira, que se reiventa. Gaby Amarantos traz renovação para uma MPB fraca de cantoras que estão no mainstream e leva uma cultura de tecnobrega até então “pequena” para o cenário nacional (ao contrário da região norte, que é um fenômeno). O “primeiro VMB da Amazônia” deve ser comemorado, e muito. O fato de Gaby ter ganhado todos esses importantes prêmios mostra que a audiência da MTV não é mais a mesma. E isso é ótimo. Disse Gaby: "Tenho orgulho de ser uma artista que está trazendo uma nova identidade visual. O Brasil tem música pop". Tem, e ela pode ser de qualidade e inovadora. Ponto alto: Patrícia Abravanel, a filha do Silvio, ao entregar o prêmio a Gaby: “Viva a Beyoncé do Nordeste!”. Detalhe: Pará, região norte.

Mano Brown e os Racionais MC's: vida longa
ao (verdadeiro) rap
Ainda tem mais: vida longa aos Racionais MC’s. Show (zaço) de encerramento e prêmio de clipe do ano com "Mil Faces de um Homem Leal (Marighella)" Uma volta como nos velhos tempos. É uma questão simples: pegue as letras dos novos rappers e compare. A diferença é bizarra, a contestação é diferente. Numa comparação simples, é comparar o samba de raiz com o pagode. Emicida, Projota e os “meninos” do ConeCrewDiretoria tem muito o que aprender, ainda. O que é mais engraçado é ver a plateia, que talvez mal saiba o que é e a importância dos Racionais (e provavelmente curte o rap-leite-com-pera do ConeCrew) vibrando. Mas enfim...

A premiação ainda teve shows de Agridoce, projeto paralelo de Pitty; Gal Costa (tão moderna quanto Gaby Amarantos),  Bonde do Role, ConeCrewDiretoria, Marcelo D2 e Karina Buhr.

O VMB 2012 foi, pela primeira vez em muitos anos, um verdadeiro prêmio da música brasileira. Não houve concentração de prêmios para apenas um artista ou um só estilo musical (ainda que o rap e o tecnobrega de Gaby tenham dominado a premiação), não houve piadinhas de apresentadores, só as piadas dos apresentadores dos prêmios. Um prêmio correto, num período de incertezas para a MTV, que tem uma audiência extremamente volúvel. O rap manteve o destaque neste ano, devido a influência da premiação ao ano anterior. Pulverizado, mas ainda importante. Mas Gaby Amarantos ter ganho mais prêmios que todos (seja por ser cult ou pop), numa premiação em que a audiência vota, é muito bom. A MTV mostrou este ano que o VMB tem fôlego para ser popular, que estava perdido nos últimos anos. É só destacar todos os ritmos, cada um com sua importância.

A audiência amadureceu.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

E que a voz da liberdade...

...Seja sempre a nossa voz! Globo investindo pesado em coisas das "camadas populares": samba e futebol presentes nas novelas das 21 horas, “Avenida Brasil” e agora na das 18 com “Lado a Lado”. E isso é ótimo.

"Lado a Lado" é daquelas novelas que cairia muito bem como uma minissérie. Mas ainda bem que virou novela, afinal é preciso mostrar mais um pouco de historia, fazer o povo (ou a grande massa, que consome mais novela do que minissérie) resgatar momentos importantes da historia do nosso país. Isso é mais importante do que fazer qualquer tipo de ficção com propaganda (ou doutrina) de religião, como foi a anterior, "Amor Eterno Amor".

A abertura é uma das mais bonitas dos últimos anos, apesar do clichê de gravar imagens da época com uma trilha. Aqui, vale a produção caprichada e o samba escolhido, que cai como uma luva para o momento histórico da novela e para a propria historia do folhetim. Isso é uma ousadia para a emissora, que sempre deixou o samba (especificamente o samba-enredo) somente para a época de carnaval. Viva o samba!


Mas isso não quer dizer que eu vá assistir. Além do horário, é mais uma daquelas novelas de época água com açúcar. Em “Lado a Lado” conta pontos o momento histórico que ela mostra, pouco contado na TV, a produção rica e o elenco: Patrícia Pillar, Camila Pitanga e Milton Gonçalves só para citar alguns exemplos.. E só. Os clichês das disputas “raciais” e de classe estão lá, a pose das baronesas e a situação ainda desfavorável aos negros – recém-libertados da escravidão também.

Vendo algumas cenas, é inevitável a comparação com outras novelas. O futebol de “Avenida Brasil” está lá, mostrado no início do esporte no Brasil. O encontro das heroínas é muito parecido com o encontro das “Empreguetes” de “Cheias de Charme”: encontraram-se num momento difícil da vida de cada uma e, a partir daquele momento, tornaram-se amigas para sempre.

O primeiro capítulo deu apenas 18 pontos de audiência. Pouco para o horário, que almeja pelo menos entre 20 e 25. Agora é esperar e ver se a historia cativa a dona de casa do horario, ainda que tenha elementos que poderiam atingir um público mais amplo e até masculino. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Os enredos do carnaval 2013 (parte 4)

De olho no carnaval 2013: vai precisar de muitos olhos
Finalizando a série de enredos do carnaval de São Paulo, as 3 restantes, o G3: Vai-Vai, Rosas de Ouro e Mocidade Alegre. Da 3º à campeã de 2012:










Vai-Vai: a Bela Vista traz o enredo “Sangue da terra, videira da vida: um brinde de amor em plena avenida – Vinhos do Brasil”. Tema batido, pois a rival Camisa Verde e Branco trouxe o vinho na avenida em 2006. Apesar disso, é um enredo bom, histórico. Mas ainda assim, acho estranho o título dizer "Vinhos do Brasil" sendo que não é um enredo essencialmente "brasileiro". O carnavalesco carioca Cahê Rodrigues é a novidade da escola. As eliminatórias já começaram e pelo menos quatro sambas podem representar bem a alvinegra na avenida. 







Rosas de Ouro: vice-campeã, a Roseira vem com “Os condutores da alegria numa fantástica viagem aos Reinos da Folia” e vai mostrar as festas e tradições espalhadas nos quatro cantos do mundo. Enredo previsível visualmente, afinal várias partes desse enredo já foram vistas em várias escolas e alas. Conta a favor o minucioso e luxuoso trabalho do carnavalesco Jorge Freitas, que tem um enredo igualmente rico. De samba, a escola vem, novamente, com um samba mediano. Nenhum samba da s eliminatórias me parece grandioso, apenas fiel ao enredo. Lembrando que isso não é exclusividade dessa escola e sim do carnaval paulistano. Sambas quadrados, extremamente fieis ao enredo e sem brilho ou riqueza poética.




Mocidade Alegre: a campeã de 2012 volta à linha de enredos que a consagraram. Enredo lúdico, “A sedução me fez provar, me entregar à tentação... Do final original, qual será o final?”, propõe “novos finais” para várias histórias, infantis ou não. A pergunta “e se?” é constante. Me parece uma indireta bem clara aos acontecimentos na apuração, de escolas que – supostamente – queriam mudar resultados. E “se o final fosse diferente?”: essa é a pergunta que a Morada quer saber. Um tanto irônico. As eliminatórias já começaram e nenhum samba tem o brilho que tinha o desse ano (“O rufar do tambor / Vai ecoar!”: refrão inesquecível). A proposta do enredo é um tanto confusa. Ouvindo os sambas das eliminatórias ou lendo a sinopse, parece que falta algo. Só no dia do desfile, com o visual completo, as respostas para as perguntas serão descobertas. Mas a escola é competente e, se tudo der certo, o enredo tem tudo para ser um dos mais legais do ano.

O Carnaval de 2013 será marcado pelo ressurgimento de algumas escolas (assim espero) e tem a difícil missão de apagar os erros de 2012. A confusão na apuração ainda está na memória das pessoas e alguns sentimentos de "vingança" ou de "temos que dar o troco" pairam no ar. Quem perde, fala que é injustiça. Quem ganha, se isenta de quaisquer acusações. 

Por um carnaval sem sujeira, sem maracutaias de qualquer tipo e sem rasgação de notas.