quinta-feira, 29 de novembro de 2012

PM em crise: chama o Datena - ou qualquer outro


Não, não vou falar sobre a negociação do Datena, o assunto já deu o que tinha que dar. Ele até se arrependeu, coitado. O título é só um adendo ao que acontece com a Polícia Militar de São Paulo. O assunto é outro. Na edição da semana passada da revista Época, uma reportagem me chamou a atenção. Com o título “Cinco histórias de violência”. Não é surpresa saber o conteúdo: a onda de violência que toma o estado de São Paulo. Vítimas para todos os lados. Policiais, bandidos e pior, inocentes. A reportagem trata de apenas um lado: cinco histórias de policiais mortos, em serviço ou não, e tudo o que fizeram em vida e o lamento dos familiares.

Não quero questionar o trabalho de reportagem. Mas me incomoda – e acredito que grande parte da população – a ode que a imprensa faz para a polícia. É impressionante como a imprensa tem encarado essa situação. Como se a polícia fosse a grande vítima dessa história toda. E sabemos que não é bem assim.
Seria tolice minha também dizer que “toda a polícia não presta”. É como dizer que todo muçulmano é terrorista. Mas estamos falando de uma corporação. Uma corporação pública, que nós sustentamos com nossos impostos. Um pode representar todos, afinal todos estão sob uma mesma farda.

Polícia antiquada e despreparada, mortes a rodo.
A reportagem conta, de maneira dramática, o que os policiais faziam com suas famílias e no trabalho e como foram – brutalmente – mortos. É aquela velha história: quando morre, a pessoa vira santa. Provavelmente todos esses policiais da reportagem são vítimas de um sistema que outros colegas corromperam. Esses da reportagem são “de bem”, incluídos em mais estatísticas. Além disso, a matéria nos conta que o combate ao crime passou para a Polícia Militar, substituindo uma tropa de elite criada no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Mudança promovida pelo incompetente Geraldo Alckmin. Veja bem, a despreparada PM passou a combater o crime. A continuação dessa história já sabemos.

A polícia carece de credibilidade: a PM de São Paulo não é das mais confiáveis – herança maldita da ditadura – e não combate o crime com eficiência que deveria ter. O povo vira refém dos bandidos e pior ainda, da polícia. O recente caso de PMs que mataram um suspeito, com imagens exibidas em rede nacional por um cinegrafista amador, chocaram e colocam mais em xeque ainda o trabalho desa polícia que sim, mata aleatoriamente.

Os conservadores vão dizer: “mas quando o bicho pega, o povo chama pela polícia”. Claro, afinal essa é a obrigação deles. Pagamos por isso. Mas é direito de todo cidadão clamar por mais segurança e eficiência, ausentes hoje.

Em resumo, não é surpresa o despreparo da polícia, que se submete a chamar o Datena para mediar uma negociação de sequestro.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

"Suburbia": horário ingrato para o melhor de 2012



A Globo tem nas noites quinta feira duas series, já em seus 4 episódios exibidos: “Como Aproveitar o Fim do Mundo” e “Suburbia”. “Como Aproveitar O Fim do Mundo” é a primeira a ser exibida. Escrita por Alexandre Machado e Fernanda Young – de “Os Normais”, a última série boa que escreveram -, a serie conta a historia de Ernani (Danton Mello) e Kátia (Alinne Moraes) e todas as peripécias para aproveitar a vida até o dia 21 de dezembro de 2012,  o fim do mundo para os maias. 

 Clichês baratos, frases sem sentido e um humor questionável permeiam a serie. Mesmo assim os autores trazem uma melhora em relação à sem graça “Macho Man”. O que segura a serie é a ótima interpretação de Alinne Moraes, mesmo forçadíssima – o que realmente deve ser, afinal ela é uma louca que acredita no fim do mundo e quer fazer tudo o que nunca fez, enquanto Ernani é um “solteiro de 30 anos limpinho”. Kátia ajuda Ernani a realizar todos os desejos que ele não realizou no sexo, na vida, no trabalho...

Kátia e Ernani: aventuras nonsense não garantem graça
“Como Aproveitar o Fim do Mundo” não traz novidade, mas não compromete. Os autores mantem o mesmo humor nonsense de outras series, Danton Mello mantém os mesmos tiques de outros personagens, os clichês de arrependimento e fim do mundo estão lá e Alinne Moraes se sobressai em relação ao parceiro de cena.

Conceição (Érika Januza): samba, funk e Madureira
A segunda serie – o que é uma pena, pois merecial um horario melhor –“Suburbia” mostra o que Luis Fernando Carvalho – de “Hoje é Dia de Maria”, “A Pedra do Reino”, “Capitu” e “O que querem as mulheres?” – sabe fazer de melhor, ao mesmo tempo em que se reinventa. As obras anteriores eram “classudas”, sem apelo popular. Suburbia é o oposto de tudo isso: favela, samba, povo, drama e humor. Como que num documentário, retrata a vida de Conceição – mais tarde, Suburbia – uma jovem que sai de minas de carvão em Minas Gerais e parte para o “sonho” do Rio de Janeiro. Mas ela o sonho, em alguns momentos, tornam-se pesadelos:  menina negra que cai numa cilada, é presa, sofre na prisão de menores e foge, sofre estupros, sempre fugindo. Mas isso não impede a poesia das cenas, principalmente as que mostram a religiosidade dos personagens. Os atores são “não-atores”, o que aumenta o desafio mas não compromete a qualidade. Érika Januza, a protagonista, é tão boa – ou melhor – que muitas atrizes por aí. 
Ainda tem Jéssica (Ana Pérola), a antagonista de Suburbia, a "rainha do baile", até a chegada de Conceição. Ana Pérola é o retrato da inveja, personificada numa mulher forte e impetuosa. Ana Pérola brilha, assim como Érika Januza.

Jéssica (Ana Pérola) em "Suburbia"
Impossível não lembrar “Cidade de Deus”, até porque Paulo Lins – escritor do livro que deu origem ao filme – também escreve “Suburbia”. As favelas e problemas sociais estão lá e claro, não podia faltar a câmera na mão frenética. Outra referência é o cinema blaxplotation, que Tarantino já usou em “Jackie Brown”: mulher negra, música negra, problemas sociais. Mas Luis Fernando Carvalho imprime seu estilo na fotografia, quente, e na condução das cenas dramáticas. Cenas que, desde Capitu, são catárticas: em várias cenas pesadas, por exemplo quando Conceição é estuprada pelo namorado da patroa no primeiro episódio. Enquanto isso toca um romântico Roberto Carlos. 

Suburbia, sem receio algum, é a melhor coisa que a Globo fez em 2012.