segunda-feira, 22 de outubro de 2012

"Salve Jorge": salve-se quem puder


Salve Jorge: uma repetição de clichês
“Salve Jorge” estreou com a difícil missão de superar em audiência e popularidade a anterior, “Avenida Brasil”. Gloria Perez, a autora, é “gata escaldada”: novelas com apelo popular concentradas num romance com idas e vindas e a exposição maciça de uma cultura estrangeira, juntos com um – chato –merchandising social. É a quarta novela que Gloria apela a esses recursos e, pelo menos nesse primeiro capítulo, foram seguidos à risca. E, por motivos óbvios, parecem esgotados diante da proposta diferente de “Avenida Brasil”.

Nanda Costa ou Nada Consta?: sem carisma para
uma protagonista
É o estilo novelão. Se “Avenida” voltava a trama para o cinema e seriados, “Salve Jorge” mostra o que consagrou as novelas brasileiras. A novela começou com paisagens grandiosas da Turquia, o novo cenário e logo de cara, mostrou uma Morena (Nanda Costa) sendo posta a leilão. É “arrematada” por alguns mil euros e a próxima é anunciada: “Vejam senhores, que esplendor de tcheca”. Sim, a novela começou no futuro e voltou, sendo mostrado um “8 meses antes”. Não lembro outra novela ter utilizado esse recurso. Interessante.

A novela “volta” oito meses no meio de um tiroteio. Morena e o filho estão no fogo cruzado, quando traficantes e policiais travaram uma guerra no morro do Alemão, o outro cenário principal da novela. Imagens reais do conflito mostradas em telejornais se misturaram com as imagens da novela, garantindo um realismo pouco visto. Sim, tinha cara de documentário. Isso não tira o mérito, pois a edição foi muito bem construída.

Morro do Alemão tão belo quanto a Capadócia
A fotografia é típica das novelas de Gloria: grande angular, com paisagens, contrastes de cores, mas nada inovador. O Alemão e a Turquia são igualmente belos e grandiosos. A trilha sonora instrumental é grandiosa, digna dos grandes filmes de batalha. Já a trilha sonora original tenta pegar carona no popular, com funk, samba e pagode. O baile charme dá lugar ao “pagofunk”, sai o Divino e entra em cena a favela. Apesar de parecidas, são duas realidades completamente diferentes. O Divino era um retrato de um bairro, de famílias que, independentemente da classe social, são parecidas. Já o morro é uma realidade exclusiva de quem mora lá. Isso pode afastar uma parte do público. Nem é preciso falar do título, mais segregador do que qualquer outra coisa.

O contraste manjadíssimo de classes também é mostrado. Lucimar (Dira Paes), a empregada, moradora do Alemão, preocupada com o conflito e Drika (Mariana Rios), preocupada um futilidades. Drika parece uma versão enriquecida de Suellen (ísis Valverde, em “Avenida”). Mas a cota “periguete” da novela cabe à Lurdinha (Bruna Marquezine).

O casal: idas e vindas do amor. O sono bate à sua porta.
Mas está faltando algo: o protagonista. Théo (Rodrigo Lombardi) continua canastrão, assim como todos os outros personagens galãs que já fez. Ao comentar sobre os sonhos que tem na vida, Théo diz “Só? Você acha pouco?”. É como se quisesse mostrar que a novela é, sim, grande. Ele namora há um mês a companheira de batalhão Érica (Flávia Alessandra). Numa balada, os dois tem um diálogo forçado sobre sonhos. Em casa, Lívia debocha de Théo. Uma inversão de papeis.

Théo é devoto de São Jorge, pois foi soterrado num acidente quando era crianã. Era dia de Jorge e desde então crê no santo guerreiro.  Élcio (Murilo Rosa) será a pedra no sapato de Théo, já que os dois disputam posições no batalhão. É um invejoso nato. Os personagens de Gloria são assim: calcados nos estereótipos.

A novela segue uma proposta realista (só aqui, que fique claro) e mostra a invasão do exército no morro. Novamente imagens de jornalísticos. E aqui a ascensão social é mostrada de forma veemente: os jovens estão conectados, comentando a invasão na favela, na zona sul e no escritório. As famílias do morro têm notebook e TV de LED, smartphones e filmadoras. Isso não condiz com as tramas fantásticas de Glória Perez.

Seu Jorge, quer dizer, São Jorge caminha sobre as águas.
Quer mais fantástico que isso?
Depois de quase 40 minutos do primeiro bloco, a abertura. De fato, um dos pontos altos da novela. Seu Jorge (ah vá!) canta a música, com imagens gráficas incríveis, fantásticos, que misturam a favela com a Capadócia e um São Jorge galopante sobre águas e tudo o mais. É uma síntese da novela. A música não chega a ser “chiclete” como um “Oi Oi Oi”, mas agrada. A repetição de elementos faz lembrar “Caminho das índias”, a novela anterior de Gloria. Veja em: http://tvg.globo.com/novelas/salve-jorge/videos/t/salve-jorge/v/confira-a-abertura-de-salve-jorge/2203083/

O primeiro bloco foi inteiramente dedicado à apresentação do conflito principal e dos protagonistas Théo e Morena. Já o segundo, dedicado aos núcleos menores e personagens coadjuvantes. Coadjuvantes de peso. Heloísa (Giovanna Antonelli) me parece a mais segura no papel, junto com Dira Paes. Nanda Costa não tem nenhum carisma e não convence como protagonista, mesmo sendo uma moça humilde, porém forte e barraqueira. Carismática como uma porta. O merchandisng social foi mostrado rapidamente, com uma Carolina Dieckmann segura e explicando o “sonho”. Tudo muito rápido.

Lívia (Cláudia Raia): vilã ou cômica?
E enfim, no terceiro bloco, é apresentada a vilã-mor de “Salve Jorge”. Lívia (Cláudia Raia) “chega chegando”: se mostra como empresária. Mais uma ironia: Lívia diz “Não, não estou trazendo nenhum musical”. Raia é conhecida pelos grandes musicais que estrela. Cláudia Raia fazendo um papel de vilã é cômica.

E, ENFIM, Istambul, a capital turca é mostrada de fato: danças, danças, danças. Músicas, músicas, músicas. Expressões, expressões, expressões. Stênio (Alexandre Nero) e Drika vão ao estrangeiro num passe de mágica. Mustafa (Antonio Calloni) é mais um dos personagens estrangeiros desse ator, novamente numa novela de Gloria Perez. É o mesmo personagem. E começa o festival de expressões turcas seguidas da tradução em português.

Istambul IS THE NEW Marrocos ou IS THE NEW Índia
“Salve Jorge” é uma novela requentada, com os mesmos recursos de novelas anteriores de Gloria. Se essa encerra a trilogia iniciada com “O Clone”, “Salve” pode ser a pior parte, comum em trilogias. O primeiro capítulo não mostrou todos os personagens – são quase 80 – e muito menos os núcleos. O sucesso da trama pode estar calcado justamente nessa fantasia proposta, no melhor estilo novelão Gloria Perez de ser. Mas é uma missão difícil e a repercussão não foi positiva: no twitter, poucos foram os assuntos comentados e a novela estreou com 35 pontos de média, a pior estreia entre as 18 últimas novelas das nove.

Desse primeiro capítulo de "Salve Jorge", destaque – além da abertura - para MC Koringa, que emplaca novamente (em sequência, depois de “Avenida Brasil”) um funk na trilha sonora.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Brasil em tempo de novela


“Avenida Brasil” chega ao fim nesta sexta e, por mais que os conservadores-pseudo-intelectuais-docontra insistam em denegrir esse produto, essa novela é sem dúvida um marco na produção de teledramaturgia no país, quiçá no mundo.

A história criada por João Emanuel Carneiro remete a várias outras, como a série “Revenge”, o livro “O Pequeno Príncipe” e vários outros lidos mesmo na novela por Tufão (O Primo Basílio, O idiota, entre outros) e até mesmo à novela anterior de JEC, “A Favorita”. Diz o autor que Nina é cria da vilã Flora. Além disso, muitas referências ao cinema estão lá, como na cena em que Nina (Débora Falabella) é enterrada viva, assim visto em “Kill Bill”, do diretor Quentin Tarantino. E referências até às primeiras novelas de JEC, “Da Cor do Pecado” e “Cobras e Lagartos”. Créditos também à direção de Ricardo Waddington, Amora Mautner e José Luiz Villamarim, brilhantes na condução e execução das cenas.

Mas não se faz mais necessário discorrer sobre as tantas qualidades e os defeitos (ah, as fotos e o pen-drive pu então a pior cena da novela entre Monalisa e Silas sobre Ivana) de “Avenida Brasil”. Cabe agora, nesse momento em que o país fica na expectativa de saber o futuro de vários personagens, discutir sobre esse produto que é um mero entretenimento, por mais que digam o contrário.

Infelizmente ainda há o preconceito e a veemente fúria dos “conservadores” (para não dizer outra coisa) que insistem em dizer que novela é alienadora e prejudica a formação das pessoas. Aos machistas (que com certeza já viram um capítulo de “Avenida Brasil”, a mais machista das novelas), que acham que novela é coisa de “mulherzinha” ou de viado. Aos cultos, que acham que novela é sub-produto, inferior ao cinema e seriados (americanos, claro). É impressionante como um produto que é o mais rentável e de maior audiência na TV brasileira – veja só, os capítulos dão mais audiência que uma final de Libertadores – ainda é execrado e tido como menor, inferior, lixo. Os grandes jornais não podem falar do assunto, afinal a “elite conservadora” acha um absurdo, uma babaquice, uma “emburração”. Mas, porra, novela não é feita para ensinar ninguém. Não é instrumento de educação. Mas falar sobre filmes, cinema e seriados, pode. Vai entender...

É preciso entender que cada país tem um tipo de produção audiovisual. Se os americanos são reconhecidos pela produção cinematográfica e de seriados de sucesso, aqui o caso é com as novelas. O Brasil é o maior produtor de novelas no mundo, com inúmeras opções e qualidades. O que falta para tudo isso ser reconhecido como uma coisa boa? O complexo de vira-lata do brasileiro é recorrente em vários setores. A devoção ao que vem de fora é gritante e irritante. A desculpa de que “temos que nos preocupar com outras coisas” é pura falação. Afinal, o que falta para as novelas serem reconhecidas como um produto tão bom quanto filmes e seriados?

Por mais que a novela faça referência – e porque não, reverência – ao tipo americano de produção, com imagens, câmeras, enquadramentos, trilhas, visual, etc, ela ainda é tida como produto “pro povão”, que “não entende”, que quer consumir de graça, que é alienado e “não tem o que fazer”. E, veja só novamente, uma novela (Caminho das Índias) ganhou o Emmy Internacional (o Oscar da TV mundial) como melhor novela. A primeira novela das 11, “O Astro”, está concorrendo ao mesmo prêmio este ano. Mas ainda querem mais.

Acredito que um dia essa situação pode mudar e, aí sim, a novela pode ser acompanhada por cada vez mais e bons olhos. 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Os sambas da terra da garoa - parte 3


- Império: Poderia ser suspeito para falar, afinal é minha escola. Mas, não é um samba que me agrada. Não que o samba seja ruim, ao contrário. Um dos melhores do ano, até. O problema é que o samba parece que não foi feito para o Império. Pode ser para outra escola, mas não aqui. Diferente de outros sambas, este acaba caindo nos mesmos maneirismos do samba de São Paulo. Não é surpreendente, mas não é marcante quanto os de 2005 e 2007. Temo, pois a perda da identidade em uma escola de samba é grave pode custar caro. O samba tem bons momentos, como o refrão do meio. Esse refrão que jamais ouviria na Casa Verde, com “pegada afro”. Nem quando a escola falou do tema em 2003 houve uma referência tão explícita. Eu, particularmente, não gosto e, ainda mais nesse enredo, me parece desnecessária essa citação. O samba mexeu com os brios da comunidade com os versos finais (A minha voz, ninguém vai calar / Imperiano eu sou / Não desisto de lutar), numa tentativa forçada de “levantar” a escola. O refrão principal é um festival de clichês, com um número sem fim de adjetivos e qualidades (amor, paixão, guerreiro, raça, emoção, nação). No mais, o samba, além do festival de clichês, é um samba fiel ao enredo e finaliza com uma “mensagem “ de força, garra, união e luta à escola, caindo no refrão principal, com intermináveis elogios, com muita raça, amor e paixão. Não convence.

- Mocidade: Fazia tempo que não via um samba tão fácil de "pegar". É fácil, bom de ouvir e de cantar. A parceria foi bi-campeã e o samba continua bom. E é também da parceria o samba do Império citado acima. Claro que inferior ao maravilhoso samba de 2012 (Ojuobá), mas o enredo da Morada para 2013 é lúdico e o samba acaba sendo “mais um”. O enredo é confuso, mas a letra do samba deixa claro com perguntas (E se o vilão é o herói, afinal? / E se o sonho se torna real?) ou com os versos iniciais. O refrão do meio é o destaque do samba. Já o refrão principal tem uma “aura” do de 2012 (2012: Tenho sangue guerreiro, sou Mocidade, e 2013: Com muito orgulho, sou Mocidade) e não seduz. A escola alterou o verso “Morada, é a paixão que nos conduz” por “O samba é a paixão que nos conduz”. O enredo me parece uma indireta às outras escolas e a alteração só fez completar essa suspeita. A citação no samba à escola está lá, os elogios e qualidades também (paixão, força, união, garra e emoção) e deságua num refrão igualmente “orgulhoso”. Elogios são bem vindos, mas uma hora cansa.

- Nenê: a Águia Guerreira da Zona Leste vem com um samba grandioso. Porém, não belo. É extenso, burocrático e não combina com a voz do intérprete Celsinho. O enredo tinha tudo para gerar bons sambas, o que não aconteceu – uma constante este ano. Os versos são bonitos, especialmente na segunda parte, o destaque do samba. O refrão do meio seria ótimo se não finalizasse de maneira tão óbvia e sem contexto. O início do samba é por vezes triste, mas nada que algumas mudanças na letra e melodia possam melhorar. É a volta da Nenê ao grupo especial e que permaneça lá, com samba bom ou ruim.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Pense numa novela ruim. É "Balacobaco", da Record


Com a missão de apagar a tragédia causada por “Máscaras”, a nova novela da Record, “Balacobaco” teve publicidade exaustiva. A missão de retomar os bons números é difícil e a emissora tem que procurar saídas para reverter esse quadro. “Balacobaco” foi encomendada à autora Gisele Joras (de “Bela, a Feia” e “Amor e Intrigas”) às pressas, já que a antecessora capengou no ibope e teve que ser encurtada. No site, é anunciada como “uma das maiores novelas da Rede Record”, com “cenas incríveis” e “elenco de primeira”. Tsc, tsc, tsc...

Antes da novela, a Record exibiu o filme “A Era do Gelo”. Um GC (caracteres) era exibido na tela “avisando” o telespectador da estreia (ele voltou durante a novela). Um desrespeito a quem estava assistindo o filme, já que o GC atrapalhava a visão. Sem intervalos, “Balacobaco” começou surpreendente: uma animação caprichada, não era a abertura, mas era algo diferente. A primeira impressão era que a novela viria com tudo. Era só impressão.

Norberto (Bruno Ferrari): bola de cristal para
saber quantos pontos dará no Ibope
A animação em questão era de um sonho de Norberto (Bruno Ferrari) em que matava Eduardo (Victor Pecoraro), seu sócio. Os personagens foram todos apresentados e o capítulo não teve sequer um intervalo. A dupla Cremilda e Zé Maria (Solange Couto e Silvio Guindane) tem a promessa de fazer rir. Fica na promessa. A protagonista Isabel (Juliana Silveira) é a única que parece à vontade no papel. Bruno Ferrari também, ao contrário do restante do elenco.

Dóris e Diva: gêmeas Paranhos. A sede de vingança das
duas faria Nina rir e enterrá-las vivas
A Record tomou gosto ao utilizar animação gráfica nas novelas. Apesar do início interessante, os efeitos visuais entrecenas são de gosto duvidosos (um pac-man nas avenidas do Rio, só como exemplo).O apelo é “moderno”, mas é nonsense. Não há uniformidade, é um festival de desenhos e referências sem ligação alguma. A trilha sonora, veja bem... Se muitos reclamavam da trilha “popular” de “Avenida Brasil”, “Balacobaco” é um convite à surdez. MC Catra faz falta na trilha.

A fotografia é mais viva do que “Máscaras”, mas ainda assim a Record sofre com a iluminação nas novelas. Tentei regular a imagem da TV, mas o problema é lá mesmo. A cenografia beira o kitsch e lembra visualmente “Bela, a Feia”, da mesma autora. Até o escritório tem referências do escritório de moda de “Bela”. A caracterização dos personagens não ajuda a compor a idade que dizem que tem. Isabel (Juliana Silveira) e Teresa (Juliana Baroni) – uma profusão de ex-Malhação, ex-angeliquetes e ex-paquitas – tem uma diferença de idade de 7 anos, com Teresa sendo a mais velha. Não é verossímil. Na cena do assalto e do acidente, Diva (Bárbara Borges) e Dóris (Ana Roberta Gualda, gêmeas, tem 16 anos, mas aparentam ser muito mais velhas do que atualmente. São erros primários, toscos.

"Né brinquedo não!": ops, errei a novela
“Balacobaco” não inova. A trama de “sede de vingança” das gêmeas Paranhos chega a beirar o ridículo: Isabel é sequestrada pelas gêmeas, mas escapa do sequestro e as duas batem o carro, causando um grave acidente. O problema é que esse acidente gerou uma cicatriz de interrogação (?) em Dóris e de exclamação (!) em Diva. As gêmeas culpam Isabel pelas cicatrizes. É, no mínimo, bizarro. A premissa é fraca. A motivação da vingança é vazia. Um bom vilão tem de ter uma boa justificativa para as “maldades”. Cicatrizes, veja bem...

A proposta da novela é impossível de ser conhecida. Se “Máscaras” tinha isso bem definido, ainda que não tenha dado certo, “Balacobaco” foi feita às pressas, um tapa-buraco pelo encurtamento da novela anterior. O “humor” da novela não convence: é caricato e é levado ao extremo. Não deve nada ao “Zorra Total”.

No final, o clímax foi interrompido por um clipe que pareceu imagens de vários próximos capítulos e não apenas do próximo. A abertura foi exibida por último e, se taparmos os ouvidos, é digna de nota. É excelente, criativa. Mas a trilha tenta pegar carona no “oi oi oi” de “Avenida Brasil”. Fica na tentativa, é ruim, muito ruim.

“Balacobaco”, segundo a prévia do ibope, deve ter perdido para o SBT, ficando em 3º lugar entre 7 e 9 pontos. Assim que a novela começou, o ibope da Record veio abaixo, de 12 para 7. Se a emissora quis fazer uma novela que honrasse o nome, ela conseguiu. “Balacobaco” é aquele delírio que beira a vertigem, de tão ruim. 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Os sambas da terra da garoa - parte 2


Mais quatro sambas paulistanos:

- Tucuruvi: Outra parceria bi-campeã, o samba da Tucuruvi era o melhor da final. De enredo fácil, a escola não teve grandes problemas com os sambas. É um samba correto, exceto (no bom sentido) pelo refrão de meio, que é o mais divertido do carnaval, com direito a risadas. Pode ser um risco, mas eles são necessários para manter a qualidade do samba paulista, que anda fraco (aliás, mal acostumado, acomodado) em termos de samba. A segunda estrofe é destaque, com uma linda homenagem dupla: ao tema do enredo, Mazzaropi e Dona Edna, a primeira dama da escola que faleceu em maio deste ano.

- Rosas de Ouro: Se tivesse uma palavra para descrever o samba da roseira é sono. Apesar dos versos lindos, amorosos, feitos para virar frase-clichê, a melodia é sonolenta. Um risco, desta vez perigoso, já que a escola será a segunda a pisar na avenida. Ao invés de incendiar, vai minar na avenida, a não ser que Darlan e o time de canto façam algum milagre. Salva o samba o refrão principal, alegre, a cara de sambas mais antigos da Rosas. Destoa do restante. O refrão do meio é incrivelmente lento, praticamente uma canção de ninar. Alguns versos parecem confusos, como “Uma dança enfeitiça o olhar / E o toque do tambor os corações!”. A comunidade abraçou o samba (provavelmente pelas frases “lindinhas”) e a final tinha outro samba melhor, da parceria campeã em 2012. Era um samba com “pegada”, correto, mas a Rosas novamente opta por essa linha de samba, que perdura desde 2009. Uma pena para uma escola que já levou sambas memoráveis para a avenida. A festa, que me perdoem os torcedores, pode não rolar.

- Gaviões da Fiel: É impressionante o que acontece na alvi-negra do Bom Retiro. Desde que voltou ao grupo especial em 2008, os Gaviões parecem perdidos, sem rumo. Nenhum samba até agora tem a cara da escola, nem mesmo o do centenário corintiano. O enredo sobre a publicidade brasileira me pareceu interessante, mas quando chegaram os sambas de enredo concorrentes... Nem mesmo o poeta Grego, de sambas históricos, conseguiu salvar a leva de sambas. Ernesto Teixeira volta a ganhar um samba na própria escola e ele é pé quente: nos anos que ganhou samba, a Gaviões levou o título em três oportunidades (1999, 2002 e 2005). Já o samba, veja bem... Samba extenso, pouco visto na alvi-negra, é como se fosse um samba de outra escola que os Gaviões pegaram. Apesar disso, é correto. Os refrões são medianos, sem emoção. A segunda parte é interessante, com uma melodia melhor construída. A primeira estrofe faz uma ode ao Corinthians, assim como o verso do refrão (Um bando de loucos, amor de verdade). Mas nem isso deixa o samba com a “cara” já conhecida dos Gaviões.

- Vila Maria: Mais um daqueles sambas mais-do-mesmo, com refrões genéricos. É covardia comparar com o samba de 2008 quando homenageou a comunidade japonesa. Tudo bem, são duas nações diferentes, mas a comparação é inevitável de ser feita pela proximidade visual dos enredos. Os versos “Recomeçar, lutar sem desistir / Tá no sangue feroz dessa gente / Trilhar um caminho, buscando a vitória” tem duplo sentido, também relacionado à escola. A segunda parte, como na maioria dos sambas, parece melhor feita. Sinto falta de expressões sul-coreanas (conta apenas com uma no refrão de meio).


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Os sambas da terra da garoa - parte 1


Assim como feito com os enredos, chegou a vez de falar dos sambas-enredo que as escolas de São Paulo levarão para a avenida em 2013*. A ordem aqui será da mais recente até a primeira escola a escolher o samba. Começo hoje com Águia, Vai-Vai e X-9 Paulistana:

*Lembrando que é uma opinião de quem escuta. APENAS uma opinião, sem desmerecer qualquer escola de samba.

- X-9 Paulistana: talvez a escolha mais surpreendente do ano e que gerou briga no anúncio do samba. Em vão. A escola da Parada Inglesa tem nas mãos um bom samba, um samba diferente, que foge dos versos e melodias manjadas que o carnaval de SP está viciado, inclusive os dois sambas da final. Apesar da melodia um pouco "para baixo", tem a letra linda. O samba pode crescer na voz de Royce do Cavaco. Um samba sem firulas, direto ao ponto, sem versos longos que poderiam ser resumidos em poucas e diretas palavras. Um acerto para a X-9, que tem um enredo fraco e que anda muito perdida nos últimos anos. 

- Vai-Vai: a escola do Bixiga teve uma das melhores eliminatórias do ano. O samba da comunidade caiu antes de chegar à semifinal e, na final, deu a lógica: a parceria de Zeca do Cavaco, que vence pelo terceiro ano seguido. Um ótimo samba, com a cara do Vai-Vai. O samba é curto, mas o refrão de cabeça é longo – e nem por isso menos bonito: são versos para entrar na história, como “Matriz, escola do povo / Respeite o meu pavilhão!”. É uma afirmação totalmente válida para a mais tradicional escola de SP. Apesar disso, o samba resume de maneira muito simples o enredo. O primeiro setor é cantado apenas nos dois primeiros versos do refrão, só para citar um exemplo. Isso poderá custar alguns décimos à escola, assim como em 2012.

- Águia de Ouro: uma das poucas a não fazer eliminatórias abertas, a escola da Pompeia só mostrou que essa é a melhor saída para o carnaval. A Águia de Ouro tem o melhor samba do ano. Não por acaso, com um dos melhores enredos do ano, também. João Nogueira será lindamente homenageado. O samba tem a assinatura do filho, Diogo, juntamente com parceiros que fazem sambas para a Portela. O samba tem versos de composições de João e Diogo, e a melodia foge dos padrões dos últimos anos. O samba brinca com a canção "Espelho", no conjunto de versos "ê vida boa / ê vida à toa / ê vida voa". O bis no final é de emocionar (“E o meu medo maior é o espelho se quebrar...”), assim como o refrão de cabeça (“Ninguém faz samba só porque prefere”). O único pesar fica para o refrão do meio, com seis versos um tanto longos e desnecessários (os dois últimos). Mas, “ê, vida boa”, ê samba bom!

A Águia foi a última a apresentar o samba e só faz mostrar que o concurso de eliminatória é só uma forma das escolas ganharem (MAIS) dinheiro. Uns brigam (como na X-9), outros aceitam, pois já ganhou vários sambas (Vai-Vai), outros porque tem a identidade da escola (Mocidade) e assim vai caminhando o carnaval paulistano. Enquanto houver eliminatórias, os sambas bons ficarão na memória de quem acompanha (Vai-Vai, Império, Nenê) e os sambas “de acordo com a sinopse” vão ganhando, com versos e melodias clichês, maneirismos, mesmos compositores. Isso só faz prejudicar a qualidade do samba paulistano. É só uma fase, assim espero. Mas, “ninguém faz samba só porque prefere”...

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

"Guerra dos Sexos": remake em quadrinhos


Dessa vez não há o símbolo de "versus". Os dois sexos estão
em pé de igualdade
Aquele que achar que “Guerra dos Sexos” tem que ser o retrato fiel de uma suposta guerra entre sexos, está enganado. Ou então que seja real, num momento em que as mulheres estão no poder, também está enganado. A nova novela das 19 horas da Rede Globo é um convite à diversão, uma tiração de sarro no melhor estilo Silvio de Abreu de fazer novelas. São Paulo, lojas, a Mooca, a rica zona sul. Todos os elementos preferidos do autor estão lá.

A novela começa com a leitura do testamento deixado pelos finados Charlô I e Otávio I (Fernanda Montenegro e Paulo Autran na primeira versão) e, claro, a disputa entre os primos Bimbinho e Cumbuqueta, Tony Ramos e Irene Ravache (com direito até a capa de bruxa) ao saber que serão sócios.  O uso de animação gráfica já começou nas primeiras cenas e chegou à abertura, com uma qualidade tamanha que não era possível, num primeiro momento, distinguir o que era real ou animado. Ainda nas primeiras cenas, a exibição de cenas da primeira versão e os quadros de Fernanda e Paulo animados com expressões farão referências à trama original. Uma tentativa de aproximar os que assistiram pela primeira vez.

Abertura recria a cena clássica da primeira versão
A trilha sonora incidental é pastelão, do jeito que Silvio de Abreu gosta, combinando com o tom humorístico de praticamente todas as cenas. Para manter a nostalgia da versão anterior, músicas da trilha sonora voltam repaginadas. A fotografia é viva, não tão colorida como em “Cheias de Charme”, mas viva, vibrante. Há também o uso de outros tipos de lente, tomadas não convencionais (como nas pernas que Bimbinho viu do carro e visão que quadro de Charlô I e Otávio I), dando uma cara de história em quadrinhos para a novela. A animação gráfica ainda se mostrou presente na fachada da loja Charlô’s. Para aumentar mais essa sensação de “história animada”, o carro antigo de Bimbinho é o contraste com a modernidade de São Paulo.

Uma São Paulo viva e rica, mostradas na zona sul e na zona leste com a Mooca. Isso pode afastar o público popular (do morro) da novela anterior, mas a temática urbana (vista no lançamento da coleção, skate, transições de cenas e MMA) reforça essa identidade que, mesmo viva, é totalmente oposta ao universo (chato) das empreguetes de “Cheias de Charme”.

“Guerra dos Sexos” marca a volta de Luana Piovani às novelas e Reynaldo Gianechinni após o câncer. Drica Moraes também está de volta após uma leucemia. O elenco, de primeira linha, segura a novela, que tem um texto leve, caricato, uma marca do humor de Silvio de Abreu. Os clichês dos sexos estão todos lá: mulher não sabe dirigir, homem é mal educado e barbeiro, mas conta com uma máxima dos nossos dias: as mulheres no poder representadas por Charlô pilotando um avião.

Fernandona e Autran presentes no remake
O remake de “Guerra dos Sexos” é, sem dúvida, uma novela para todos os sexos. Se nos anos 1980 era um embate onde os homens estavam no poder, hoje a piada pode soar tosca, mas ainda garante algumas risadas. Tony Ramos e Irene Ravache estão ótimos, mas a novela corre o risco de ter uma rejeição do público anterior. Uma novela de meninas, empreguetes e sonhadoras. Um porre.

“Guerra dos Sexos” é uma historia em quadrinhos, por vezes tosca, por vezes engraçada. Não é uma novela convencional. Enfim, a guerra está declarada!



Guerra dos Sexos
19h
Direção: Jorge Fernando
Autor: Sílvio de Abreu
Para saber mais: guerradossexos.globo.com