quarta-feira, 26 de junho de 2013

Eu tô te explicando pra te confundir*

As duas últimas semanas têm sido bombardeadas por informações e opiniões de todos os lados. Como lidar?


Desde as primeiras manifestações até as (rápidas como nunca se viu) decisões em várias instâncias de governo, nós somos inundados por cada vez mais informação. Cada vez mais não sabemos onde isso vai dar. Cada vez mais não sabemos como isso se manterá. E cada vez mais, mais informação. Inclusive esse texto. Perdoem-me.

Opiniões de “conceituados” jornalistas não faltam. Li por aí que é no mínimo contraditório figurões do nosso jornalismo, que passaram por todas as outras manifestações, ditaduras, etc no Brasil estejam dando pitaco no que acontece hoje. Uns vão dizer: “mas é a voz da experiência, devemos ouvi-los”. Outros – eu (com)partilho mais para esse lado – afirmam que estão obsoletos, conservadores, reacionários, saudosistas e que essas “análises” devem ser feitas por quem está ali, presente. Por jovens – ou nem tão jovens assim – que dão suas opiniões a rodo nas redes sociais. Aliás, o que seria de tudo isso sem facebook e twitter?

Confesso: a quantidade de informação tornou-se pesada. Pesada por motivos próprios e acredito que muitos (não só jornalistas) estejam assim. Virou um vício saber o que está acontecendo, onde, porque, com quem, como. E isso em todos os meios de comunicação, sejam eles conservadores (como a Folha, globo.com, Estadão) ou “libertários” como a Carta Capital e, claro, o Facebook.

Tento me livrar disso. Mas é complicado. Pego um livro pra ler, que ainda não tinha lido: “Terror Global”, do Demétrio Magnoli, respeitado jornalista que trata de geopolítica. Evidentemente, o livro trata do terror instalado desde os atentados de 11 de setembro e seus antecedentes e projeções futuras. E, veja só, mais terror. Ah, e inclino-me a reler “Anatomia de um Instante”, do espanhol Javier Cercas. O livro trata do golpe de estado na Espanha e seus desdobramentos. Realmente, a violência e o terror tem seu charme. Esse texto do site “Papo de Homem” explica melhor: http://papodehomem.com.br/brevissimo-ensaio-sobre-o-fascinio-pela-violencia/

Entre um livro e uma notícia ou outra, assisto ao jogo do Brasil. Mais tensão. Ou então baixo o capítulo da novela de ontem e tento assisti-lo novamente. Em vão. Tomo um café. Procuro emprego.

Mas não quero perder o trem da história.

*verso da música "Tô", do Tom Zé.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Quem quiser, que saia! Bole-Bole vai virar Saramandaia!

Saramandaia estreia com manifestação e pedido de plebiscito. E não tinha nada combinado.

Algumas coincidências são intrigantes. No caso, assustadoras. O remake de Saramandaia estreou na tv Globo no momento em que o Brasil passa por um dos momentos mais turbulentos desde a chegada da democracia. O povo foi às ruas depois de anos de inércia. Em Saramandaia o povo – sobretudo os jovens, como hoje – foi às ruas pela mudança do nome da cidade Bole-Bole para Saramandaia. Munidos de celulares, tablets, Skype e até mesmo transmissões ao vivo. Sim, nos dois. A novela usa e abusa da tecnologia para integrar a população bolebolense. O limite entre realidade e ficção nunca foi tão posto à prova quanto neste capítulo de estreia.

A primeira versão foi ao ar em 1976. Dias Gomes, comunista, escreveu a novela em plena ditadura militar. Através de metáforas, incorporadas em personagens com características peculiares, driblou a censura. O discurso político era forte. Evidente que se não fosse essa onda de manifestações que se alastra pelo Brasil hoje, os fatos da novela passariam despercebidos. O autor do remake, Ricardo Linhares e toda a equipe devem estar soltando fogos.

Linhares escreve a novela “livremente inspirado” na obra anterior. Portanto, há a criação de novas tramas e personagens e a necessária adaptação para o momento político. Não faltaram referências ao mensalão, como quando Zico Rosado (o bastantemente corrupto vivido por José Mayer que bota formigas pelo nariz quando é contrariado) diz que deu “um dinheirinho” para os vereadores. Ele arremata: “não se pode confiar em político comprado. Palavra não vale mais nada!”. O traiçoento Zico vai além e critica: “Essa internet... Pena que não dá pra colocar uma mordaça nisso aí!”. Mas Mayer parece que mantém características de outros personagens. Tomara que isso se desfaça com o tempo.

E Zico Rosado faz parte de uma nova trama: na juventude, foi namorado de Vitoria Vilar (Lília Cabral, pela 67864ª vez parceira de Zé Mayer e uma das novas personagens. Ela literalmente se derrete de amor). As famílias Rosado e Vilar são rivais e o conflito está pronto. Ela volta a Bole-Bole (agora, Saramandaia) e os dois vão acertar contas. No amor e na política.

Todos os tipos estranhos foram mostrados. Dona Redonda (Vera Holtz) e sua fome interminável, Seu Encolheu (Matheus Nachtergaele) e sua previsão do tempo pelos ossos, Cazuza (Marcos Palmeira) que quando se emociona bota o coração pela boca, Marcina (Chanderlly Braz) que fica em brasa quando excitada, Candinha Rosado (Fernanda Montenero, sempre simples e brilhante), Tibério Vilar (Tarcísio Meira, pai de Vitoria Vilar e novamente pai de Lília Cabral, assim como em “A Favorita”) e, claro, João Gibão (Sergio Guizé) e suas asas escondidas.

As brigas entre famílias – capitaneadas por Tibério, que já criou raízes no chão e Candinha, que enxota galinhas imaginárias – soam velhas hoje, assim como algumas disputas políticas. O prefeito Lua Viana (Fernando Belo) faz o tipo "caxias" e defende a mudança de nome, ao contrário de Zico Rosado. Mas a adição de meios tecnológicos e novos personagens e tramas dão fôlego ao remake, assim como a tentativa de dialogar com os momentos recentes da política e vida no Brasil. O discurso do professor Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes, que ainda vai virar lobisomem) falando qualquer coisa estranha e “estrogonófica” e o povo aplaudindo é a encarnação da demagogia dos nossos políticos. Zico Rosado diz: “Sai dos abstratos e entra nos concretismos!”.

A novela usa e abusa de neologismos, como já deu para perceber. Assim como nas chamadas, os personagens dão vazão a um sem fim de novas experssões: sujismo, desmiolenta, cervejação, hipocrisismo, merecedência, bastantemente, topetice, entre outros. Um fantastiquento vocabulário que apesar de engraçado, pode tornar-se maçante. Explico depois.

Apesar das cenas terem começado com a música “Pavão Mysteriozo”, de Ednardo, a abertura abdica da música original de 1976 pela primeira vez em um remake das 11. A animação elaborada que remete aos personagens contrasta com a precariedade da original (veja aqui: http://www.youtube.com/watch?v=sR7ul_2zkSY). Mas a música, tão encaixada com a novela, faz falta. “Saramandaia” leva o realismo fantástico tão toscamente feito em 1976 ao que se tem de mais moderno em efeitos especiais. Os takes aéreos da cidade são quase todos feitos em computador, já que a cidade reúne colina, duna, floresta, morros em um só lugar, o que naturalmente não existe. O primeiro capítulo mostrou “apenas” um coração saindo pela boca. Surreal de tão bem feito. A fotografia é viva, colorida, mas por vezes árida, amarelada, mas não há grandes inovações como planos diferenciados. É tudo muito convencional, o que destoa das recentes produções da emissora como "Avenida Brasil" e "Amor à Vida". Convencional demais para uma novela de caráter especial.

O texto é bom (às vezes infantil), mas Ricardo Linhares peca ao deixar os neologismos para todos os personagens, quando essas extravagâncias poderiam ser de um político demagogo como Zico Rosado. A “imponência estravagântica” se espalha e pode se perder, tornando-se chata e sem graça.

A novela chama o público pelos efeitos e não pela história. Não tem o mistério e o suspense de “O Astro” (2011) e nem a sensualidade de “Gabriela” (2012). “Saramandaia” aposta nos efeitos especiais dos esquisitos personagens para chamar o público que pode preferir ver os esquisitos personagens reais de “A Fazenda 6”. O primeiro capítulo deu 27 pontos de média segundo a prévia contra 6 de Record e SBT.

No entanto, Dias Gomes (que ganhou homenagem como o santo padroeiro da cidade) deve estar se revirando no túmulo.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Não sabemos para onde estamos indo

Depois da esperança, a euforia e da incerteza, agora o medo toma conta das discussões sobre os atos realizados em todo o país.

"Não sabemos para onde estamos indo. Só sabemos que a história nos trouxe até este ponto e - se os leitores partilham da tese desse livro - por quê. Contudo, uma coisa é clara. Se a humanidade quer ter um futuro reconhecível, não pode ser pelo prolongamento do passado ou do presente. Se tentarmos construir o terceiro milênio nessa base, vamos fracassar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para uma mudança da sociedade, é a escuridão." (Eric Hobsbawm)

Ao ler cada vez mais depoimentos e textos (como este que mexeu com os brios de quem leu: https://medium.com/primavera-brasileira/dfa6bc73bd8a), as manifestações no país chegaram a um ponto que não se sabe o que está realmente acontecendo. A imprensa apoiando, casos estranhos de invasões, depredações, prédio da FIESP envolto na bandeira nacional, violência, mortes, enfim... São elementos que nos fazem remeter a outros golpes (não somente militar) que o Brasil sofreu. E de ficarmos atentos.


A discussão política esvaziou-se no momento em que não há uma pauta definida. O Movimento Passe Livre sempre defendeu a bandeira de que a luta era pela redução e extinção da tarifa de transporte público. O povo (a “massa”) foi aderindo, aderindo... Até que aqueles que repudiavam essa ideia (afinal a primeira manifestação reuniu duas mil pessoas) por ser apoiada por partidos de militância esquerda, hoje pedem para baixar bandeiras, etc. Pegam o bonde andando e ainda querem ter mais direitos do que quem realmente sempre lutou por isso. A ilustração acima resume tudo isso.

Veja bem: não critico a adesão de ninguém ao “movimento”. Rico, pobre, preto, branco, homem, mulher, gay, etc podem e devem envolver-se nesse tipo de questão. Mas é necessário um norte, uma direção para que não haja o esvaziamento ou ainda, o medo de algo pior. Movimentos radicais vêm se formado e isso é um perigo enorme. Os argumentos de “contra a corrupção”, “por mais saúde e educação” são válidos. Mas se dizer apartidário é, sim, uma bobagem. Como falaram aos montes, é suprapartidário. Dizer-se “apartidário” é oportunismo puro. Burrice. Daí aparece os pedidos imbecis de impeachment (se Dilma sai, Michel Temer assume. E aí?), fora “PT”, bandeiras queimadas, etc, sendo que o problema não foi resolvido desde muito tempo. Isso só confirma um fato: brasileiro tem memória curta. O historiador Eric Hobsbawm, no livro “Era dos Extremos”, já dizia que “a memória histórica já não estava viva”. É o que se aplica hoje ao acusar apenas uma pessoa ou um partido/movimento/direção política.

Ficou mais do que claro que as reformas polícias baseadas em transferência de renda chegaram a um esgotamento. De nada adianta agradar empresários e pobres, se quem está no meio é quem realmente sofre. Deu certo, é claro.  O país melhorou, pessoas saíram da miséria (mas ainda morrem de fome) e o mundo abriu os olhos pra cá. Não foi o suficiente. Existem coisas principais e mais graves, urgentes. O governo sentiu e já convocou reunião ministerial. Eles estão, sim, com medo. Todos. Direita, esquerda, verdes, todos.


Ainda acho e acredito que a única luta deveria ser pela educação. É utópico, mas é aí que está a raiz de todos os problemas. Essa é a minha luta e meu desejo de melhora. E o seu?

quarta-feira, 19 de junho de 2013

#vemprarua 2

Os protestos no país tem desencadeado uma onda de revolta – em quem está nas ruas e em quem está fora delas.

Vejo muitas pessoas, contrárias ou não à causa – se é que existe alguma definida – que condenam o fato de que muitas pessoas estão saindo às ruas e postando fotos, depoimentos e os (irritantes) check-ins no “feice”. Oportunistas sempre existirão. Seja para depredar, saquear ou só pra postar uma atualização de status #ogiganteacordou seguida de uma foto na Paulista.

Alguns outros coitados, que não conhecem história, mal sabem que aquela bandeira projetada no prédio da FIESP soa como uma afronta, das mais nojentas: a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e seus empresários se deleitavam com as sessões de tortura no regime militar. Uma pena, pois a imagem é linda e não nego: tirei fotos.

Bonitinho, mas ordinário: prédio da FIESP envolto na
bandeira é o retrato da hipocrisia
O movimento se diz apartidário. Mas o que dizer dos gritos de impeachment para Dilma e Alckmin? A horda canda a plenos pulmões, mas será que sabem o quão importante significa isso? Será que realmente é caso de impeachment? A bem da verdade os dois não cometeram (ao que se sabe) nenhuma atrocidade a ponto de descambar essa revolta. Por outro lado, a insatisfação tem que ser jogada em alguém. Quem está acima paga o pato.

Com relação ao prefeito Fernando Haddad, a insatisfação é maior pois ele prometeu o “novo” muito recentemente. Milhões depositaram suas confianças transformadas em votos nele. Ao contrário de Lula que fez boas – mas não suficientes e nem importantes – mudanças no país. Quando saiu, o mensalão voltou à pauta e o resto todos nós sabemos. O grande problema do PT (seria um “novo” PT?) é a disparidade entre a esperança e confiança depositados e o saldo final. Não corresponde.

Se lermos um pouco de história, não adianta culpar os três representantes aí. A bomba estourou no momento mais oportuno: a chegada de grandes eventos esportivos no país. O todo-poderoso da FIFA, Joseph Blatter disse que o povo se esqueceria de tudo quando a bola rolasse. Isso antes, quando o futebol ainda era o ópio do povo e a seleção jogava bem.


Mas é impossível descrever a felicidade ao ver a Avenida Paulista, palco de festas em comemorações a títulos, ser tomada por algo muito mais importante que o futebol: o desejo de fazer um país melhor por meio da política e do povo.

terça-feira, 18 de junho de 2013

#vemprarua

Foram 12,9 km percorridos. Do Largo da Batata ao Palácio e depois até a Av. Francisco Morato.

Foi emocionante. Hino cantado, gritos de ordem feito piada, alegria, energia. As vias da cidade foram tomadas por uma horda enérgica, viva.

Gente de todos os tipos. O #vemprarua tomou o povo. E, olha, não foi por causa do futebol.

Não, Blatter, não vamos ignorar o que está acontecendo por causa da bola. #ogiganteacordou

Talvez tenha sido a primeira vez da maioria que estava lá. E a primeira vez a gente nunca esquece.

O Brasil está se rendendo. Jornalistas se rendendo. Quem diria, emissoras se rendendo. Mas a principal mídia hoje é, indiscutivelmente, o Facebook. Não me conformo como ainda tem gente que não admite isso.

Ver idosos e crianças, que raramente usam transporte público, mostra que esse é apenas um dos problemas. Idosos querem um Brasil melhor para seus netos. Jovens querem um futuro melhor.

Foram 230 mil pessoas em várias cidades. Brasília teve o Congresso Nacional invadido. O Rio levou 100 mil pessoas. São Paulo deu uma lição de protesto pacífico, uma coisa linda de se ver. E duvido que em SP tenham sido "só" 65 mil. O gif acima exemplifica isso.

Ontem em SP foi a desmoralização do aparato policial da cidade e do estado. O canto era: "que coincidência: não tem PM, não tem violência!".

Sobre o incidente no Palácio dos Bandeirantes, quem me garante que quem iniciou tudo foram pessoas infiltradas? Afinal, foto e vídeo de fogo chama mais a atenção.

Evidente que cada um ali está reivindicando algo. É muito disperso, não há uma unidade. O que é ótimo, visto que não há unidade política nesse país. Como muito bem disse o amigo Thassio Borges, "as pessoas ainda não sabem o que querem, mas já descobriram o que não querem". Li muitas opiniões, em vários jornais, mas nenhuma explica a situação atual como essa.

Como li por aí, quem não está na rua, quem está omisso, quem não diz nada, está perdendo o trem da história. As pessoas estão fazendo parte da história. E quem ainda acha uma bobagem, ainda é tempo: #vemprarua !

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Eu acredito é na rapaziada!

É complicado escrever, sendo que já escreveram aos montes. Às vezes é falar mais do mesmo. A maioria tem a mesma opinião. Há muito tempo não se via algo desse tipo no país. Há muito tempo não se via tanta gente mobilizada, seja pelo corpo presente, seja pela internet. E sim, as coisas estão mudando.

Ver Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo num dia incitando a violência e “máximo rigor” da PM em seus editoriais e no mesmo dia ter vários de seus repórteres atingidos é catártico. No dia seguinte, o discurso muda e as manchetes são inundadas por reações contrárias à PM. Catártico. A imprensa já muda o discurso, em todos os lugares. Estão lá, todos os conglomerados de mídia que apoiavam não só o momento atual, mas coisas que vem desde a ditadura. E hoje, é o que vemos nas capas de jornais e sites.

E é impressionante as pessoas que ainda acham que tudo o que está acontecendo é por causa de vinte centavos. Como já disse, os 0,20 são uma máscara para esconder outros problemas tão graves quanto o transporte público. Pior ainda quem culpa o Tiririca pela “burrice” do povo em escolher mal seus governantes. Tudo o que está acontecendo é justamente para mostra que tem que haver mudanças, em todos os setores: educação, transporte, saúde... E, aí sim, seremos mais inteligentes para qualquer coisa, não só para votar. O momento não deve ser mais de manifestação e sim de revolução, como vi em um dos vários depoimentos e opiniões sobre o caso.

A PM mostrou ontem sua verdadeira face: truculenta, desesperada, despreparada e, comportando-se como filhotes da ditadura, mostraram como se faz democracia. É repugnante ver os vídeos dos manifestantes gritando “sem violência!” e ver um dos paus-mandados do governo estadual mandando bala de borracha à esmo. É nojento ver o PM quebrando o vidro da própria viatura para sabe-se lá o que. É triste ver pessoas que nada tem a ver com a manifestação levarem tiros de borracha e se intoxicarem com gás. E eu, como profissional de comunicação, é de chorar ver os jornalistas e fotógrafos que talvez nem lá queriam estar, mas estavam no fogo cruzado e saíram feridos. Feridos física e moralmente.


Enquanto isso, reescrevo um trecho que li num dos melhores textos sobre o caso. A parte que fala sobre como a Copa do Mundo e várias outras coisas estão interferindo na sociedade, impostas como um padrão e de qual a imagem que esse país quer mostra para o mundo é brilhante. E finaliza: Aqueles que vão para a frente do computador defender a repressão e carimbar, com seu carimbo interminável de rótulos, os manifestantes, não merecem preocupação: estão apenas perdendo o trem da história. (fonte: http://impedimento.org/milhares-ja-escolheram-sapatos-que-nao-vao-apertar/)

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Um erro

fotomontagem Rolet20conto
Retiro (quase) tudo o que está dito na postagem que vem logo depois desta.

Mantenho o texto pois já está publicado. Lido por não sei quem. Mas publicado.

No mesmo espaço que uso para falar o que penso, quero usá-lo para falar que mudei o que pensava.

Não é uma "juventude imbecil e inconsequente". Temos, claro, os laranjas podres. Como em qualquer organização. Nesse texto, o outro lado da manifestação: http://papodehomem.com.br/o-protesto-que-eu-nao-vi-pela-tv/

Talvez não seja um "bando" de estudantes.

Mas ainda acho que quem não mostra a cara, algo de errado está fazendo.

E sim, a tarifa é alta. Os vinte centavos (ou dez para estudantes que pagam meia) de aumento soam como uma afronta ao serviço que é prestado. A palavra é: aumento. Esse é o problema, e não necessariamente o valor. Não só em São Paulo, mas em várias outras capitais.

Os vinte centavos são máscara que esconde outros problemas: corrupção, abusos de poder, desvios, má educação oferecida nas escolas, serviços de saúde ineficientes, violência, etc.

Não, não é uma minoria, apesar de ter (infelizmente) alguns "burgueses revolucionários" e "pobres arruaceiros".

Que esses protestos desencadeiem mais uma serie de outras manifestações em prol de outros temas.

A "baderninha" se tornou algo muito maior que isso. Ganhou até repercussão internacional: http://internacional.elpais.com/internacional/2013/06/12/actualidad/1371000636_370579.html

Protesto, via de regra, não tem regra.

A sociedade tem pago caro com os protestos. Mas, é o preço.

Talvez melhore. Talvez não.

Talvez faça valer o ditado "há males que vem para o bem". Talvez não.

Ainda acho que o "discursinho revolucionário anarquista" cansa.

Mas passei a achar - sim, depois de assistir todos os protestos, todos os lados (o que a mídia quer mostrar e o outro lado que - ainda bem - conseguimos ver pela internet) ao "Profissão Repórter" de ontem - que a situação é muito pior do que o ônibus que pego aqui na zona norte e vou ao centro.

Ou então a situação é muito pior do que o trânsito que você invariavelmente pega (com protesto ou não) confortável em seu ar-condicionado e vidros fechados protegidos por insulfilm (ou blindados), parados, sem produtividade alguma e reféns, veja só, de uma polícia truculenta e ineficiente, por vezes mais suspeita que a própria bandidagem. Inclusive nessas manifestações.

Enfim, não é um pedido de desculpas. Tampouco retratação, pois acredito que não tenha ofendido ninguém. Aliás, é preciso tomar cuidado pois qualquer coisa hoje pode ser ofensa.

Não é falta de convicção. Aliás, as convicções são quadradas.

Assim como são quadradas as pessoas que acham que "a polícia deve descer chumbo nesse bando de vagabundos".

Tomara que a situação mude para melhor e que os "vagabundos" de hoje se tornem um exemplo (ou algo assim) de mudança de amanhã.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Mexeu no bolso, o bicho pega

O aumento na tarifa de ônibus paulistana em 20 centavos desencadeia uma série de protestos...

foto: Thiago Queiros/Estadão
...protestos de uma juventude imbecil e inconsequente. As imagens mostram uma Avenida Paulista destruída – claro, parte por culpa da ineficiência e truculência da polícia militar – por “estudantes” que se dizem contra o aumento de 0,20 na passagem de ônibus. A “revolta” não passa de um bando de estudantes que muito provavelmente tem a condução (e mensalidade da faculdade) paga pelos pais. Muito provavelmente estudantes que pagam o olho da cara em festas e baladas. Muito provavelmente são estudantes que, àvidos por uma baderna, se jogam em qualquer manifestação, legitimando-a como justa e por uma boa causa. Mas manifestante que não mostra a cara – como os vários que usaram máscara para se esconder – só mostra que tem vergonha do que faz. E sabe que está errado.

Sabemos que sim, o aumento é um abuso, afinal subiu muito mais que a inflação no período. Sabemos que o serviço prestado não é lá grande coisa, e o problema acaba se estendendo não somente para o transporte público (ônibus/metrô/trem), mas para toda a mobilidade urbana (vias, avenidas). Sabemos que os salários não aumentaram na mesma proporção. Sabemos que a polícia é truculenta e é bem provável que tenham feito boa parte dos estragos. Mas nada disso legitima um protesto por 0,20. Sim, pode fazer falta para quem realmente precisa e mora nas periferias. Gente que mora na periferia, mas ainda assim compra tênis de quase mil reais e não reclama por isso. Estudantes que pagam meia tarifa, o que na prática resulta em um aumento de dez centavos. 

Manifestações truculentas podem garantir alguma mudança? Não. É só ver as diversas que ocorreram na Primavera Árabe. Muito barulho e poucos resultados. A diferença é que lá, sim, é por algo decente: a má política praticada naqueles países. Vejamos: no Chile, há um tempo atrás, manifestantes entraram em confronto com a polícia protestando por melhoras na educação. Veja bem, na educação. Ninguém aqui se mexe para protestar contra a má educação oferecida nas universidades públicas e mais ainda nas particulares. Mas quando mexe no bolso... Aí o bicho pega.

Acho que tudo não passa de uma minoria que se acha prejudicada e no direito de “parar” a cidade, mas uma minoria não só com o tipo “burguês revolucionário”, tão presente hoje em dia nas universidades. Mas do pobre anarquista e arruaceiro que adora uma baderna. Aliás, está virando moda: tudo vira protesto: a favor da família, contra o aborto, contra o aumento da passagem... Mas contra a corrupção, contra os maus serviços prestados em diversas áreas da sociedade, nada. Quando mexe no bolso, o bicho pega.

No fim do ano passado, em Portugal, uma manifestação de alguns milhares foi marcada por algo impensável em um protesto: o silêncio dos manifestantes. Contra o aumento dos impostos, contra os cortes nos salários e contra o desemprego, numa crise que atinge toda a Europa. Tudo no mais absoluto silêncio. Talvez não tenha adiantado. Mas ficou muito mais marcada do que qualquer “baderninha” causada por estudantes “revolucionários”.


Esse discurso “revolucionário anarquista” cansa.