Como não poderia deixar de ser... Sim, o primeiro assunto a ser
falado aqui é sobre essa novela infame. “Avenida Brasil” tem causado discussões
intermináveis nas redes sociais – assim como aconteceu quando o Corinthians
estava na Libertadores. De um lado, os que defendem a vingadora e supostamente
justiceira Nina/Rita. Do outro, os que apoiam e sentem dó daquela que é
considerada “o baluarte da moral divinense”, Carminha. As duas personagens
movimentam a trama da novela de forma que os outros núcleos pareçam meros
adereços. Os embates recentes entre as duas mostram que a novela ainda tem o
poder de ser destaque nos vários meios de comunicação, ainda que a audiência
não seja a mesma de 5, 10 anos atrás. Os hábitos mudaram, mas falar sobre o
assunto continua sendo tão mais interessante quanto antes.
As atrizes Débora Falabella e Adriana Esteves tem demostrado
total entrega às personagens. O ódio exala em cada uma. Mas o desejo do
telespectador é ver o circo pegar fogo, coisa que diminuiu de ritmo nos últimos
capítulos. Depois da cena em que Carminha enterra Nina – que, sem dúvida, está
no mural das grandes cenas da teledramaturgia nacional – a novela passou a ter
um ritmo de seriado. Apenas os confrontos entre as duas é(ra) o que
interessa(va). Nina saiu da cova tal como Beatrix Kiddo (ou” A Noiva” de Kill
Bill) e partiu para dar o troco. Antes que os “cinéfilos-cults-apaixonados-pela-sétima-arte”
que não admitem isso, lembrem-se que o próprio Quentin Tarantino é cheio de
referências. Por que uma novela não pode? Ah sim, a novela é do “povo”, por
isso é um “sub-produto”. Enfim, isso é assunto para outro dia. Voltando à
vingança, Nina passou a semana passada praticamente inteira fazendo Carminha de
escrava. Os papeis se invertem, a patroa vira empregada e vice-versa. Na base
da chantagem, Nina toma as rédeas e causa um efeito contraditório: as pessoas
estão com pena da Carminha! Eu, que acompanho a novela desde o início, não consigo
entender, apesar de Carmem Lúcia ser uma das vilãs mais carismáticas.
A pergunta que fica é: qual o motivo dessa novela ser tão
discutida? Alguns podem até dizer que é superestimada. E, sinceramente, tem um
pouco de razão sim. Vamos aos motivos dessa superstimação:
- Novela, folhetim: “Avenida Brasil” é, primeiramente, uma
novela, derivada do folhetim e, portanto, segue essa característica à risca:
vilã x mocinha e outros núcleos para adensar a trama, ainda que a mocinha não
seja tão mocinha e a vilã idem.
- Tema: é uma trama de vingança. E quantas outras tantas
novelas e livros já não trataram do tema: “Insensato Coração” com Norma (Glória
Pires), “Chocolate com Pimenta” com Ana Francisca Mariana Ximenes, o seriado “Revenge”
e até o clássico “O Conde de Monte Cristo”. Portanto, não é um tema diferente e
muito menos mal explorado.
- Tem apelo popular: apesar de discordar veentemente do
clichê “nova classe C”, que tem em praticamente todas as novelas, “Avenida
Brasil” tem tipos populares que estão no imaginário das pessoas. Tem a
piriguete (Suellen), o malandro (Leleco), o ex-jogador de futebol carismático
(Tufão)... Sem falar nas empregadas Zezé e Janaína, engraçadíssimas e peças que
movimentam de forma direta a trama Nina x Carminha.
- Trilha sonora mais popular ainda: de gosto duvidoso, sim,
com alguns rompantes de qualidade. Mas é disso que a massa gosta!
- Elenco de primeira linha: a novela reúne estrelas do
primeiro time da emissora, em papeis de vários níveis. Chama a atenção ea entrega
da grande maioria do elenco, que mistura veteranos e jovens talentos.
Todos esses movitos já foram vistos em outras novelas, isso
é um fato. O que faz então, de “Avenida Brasil”, um sucesso de crítica? Eis os
motivos:
- Produção caprichada: nunca antes se viu, em uma novela das
9, uma fotografia e direção de arte de tamanha importância e qualidade. Com
referências claras do cinema e seriados americanos, a fotografia ajuda a contar
a história de maneira sem igual. É tudo muito bem cuidado, muito bem feito.
Repare que na grande maioria das cenas os personagens centrais tem uma luz chiaroscuro. Explico: a técnica italiana
renascentista aparece no rosto dos personagens mais densos, com metade clara e
metade escura. Uma evidência de que todos os personagens – assim como a vida
real – têm nuances de bondade e maldade. Junto a isso, tem a direção de Ricardo
Waddington e Amora Mautner. Ótimos.
- Roteiro: João Emanuel Carneiro é, sem dúvida, o grande
autor da nova geração. Roteirista de “Central do Brasil” e autor de “A Favorita”
(2008), o escritor não precisava mais mostrar a que veio. Mas mostrou. “Avenida
Brasil” é escrita de forma brilhante, diálogos costurados, inteligentes. É aí
que reside a força da história de vingança já mostrada várias vezes, mas
contada e dialogada de outra maneira.
- Força das redes sociais: o público da novela é
majoritamente jovem, pois a trama é pesada. Os bordões (como o do título do
post) e a "Nina em todos os lugares" viraram páginas no Facebook. Montagens e mais montagens são “tudo culpa
da Rita”. Nunca antes foi vista uma mobilização em torno de um capítulo de
número 100 de uma novela. A hashtag
(só um exemplo) #OiOiOi100 foi tranding
topic mundial no twitter – assim como o 101, 102, 103... Os avatares e
planos de fundo dos usuários foram “congelados”, tal qual o final dos
capítulos.
- Abrangência de público: a novela resgatou um público
importante, mas preconceituoso até então. Os homens acompanham a novela tão
quanto acompanham seriados (o que não consigo entender a diferença). Um público
que talvez tenha percebido só agora que novela não é só “coisa de mulher e
viado”. Mas isso é tema para outro dia.
- Concorrência fraca: as outras emissoras não tem o que
mostar no horário. SBT e Record comem poeira.
“Avenida Brasil” pode até superar, por pouco, a antecessora
(fraquíssima) “Fina Estampa” (do chato Aguinaldo Silva). Mas que é uma nova
forma de fazer novela, ah, isso não tem dúvidas.
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