segunda-feira, 30 de julho de 2012

É culpa da Rita


Como não poderia deixar de ser... Sim, o primeiro assunto a ser falado aqui é sobre essa novela infame. “Avenida Brasil” tem causado discussões intermináveis nas redes sociais – assim como aconteceu quando o Corinthians estava na Libertadores. De um lado, os que defendem a vingadora e supostamente justiceira Nina/Rita. Do outro, os que apoiam e sentem dó daquela que é considerada “o baluarte da moral divinense”, Carminha. As duas personagens movimentam a trama da novela de forma que os outros núcleos pareçam meros adereços. Os embates recentes entre as duas mostram que a novela ainda tem o poder de ser destaque nos vários meios de comunicação, ainda que a audiência não seja a mesma de 5, 10 anos atrás. Os hábitos mudaram, mas falar sobre o assunto continua sendo tão mais interessante quanto antes.

As atrizes Débora Falabella e Adriana Esteves tem demostrado total entrega às personagens. O ódio exala em cada uma. Mas o desejo do telespectador é ver o circo pegar fogo, coisa que diminuiu de ritmo nos últimos capítulos. Depois da cena em que Carminha enterra Nina – que, sem dúvida, está no mural das grandes cenas da teledramaturgia nacional – a novela passou a ter um ritmo de seriado. Apenas os confrontos entre as duas é(ra) o que interessa(va). Nina saiu da cova tal como Beatrix Kiddo (ou” A Noiva” de Kill Bill) e partiu para dar o troco. Antes que os “cinéfilos-cults-apaixonados-pela-sétima-arte” que não admitem isso, lembrem-se que o próprio Quentin Tarantino é cheio de referências. Por que uma novela não pode? Ah sim, a novela é do “povo”, por isso é um “sub-produto”. Enfim, isso é assunto para outro dia. Voltando à vingança, Nina passou a semana passada praticamente inteira fazendo Carminha de escrava. Os papeis se invertem, a patroa vira empregada e vice-versa. Na base da chantagem, Nina toma as rédeas e causa um efeito contraditório: as pessoas estão com pena da Carminha! Eu, que acompanho a novela desde o início, não consigo entender, apesar de Carmem Lúcia ser uma das vilãs mais carismáticas.

A pergunta que fica é: qual o motivo dessa novela ser tão discutida? Alguns podem até dizer que é superestimada. E, sinceramente, tem um pouco de razão sim. Vamos aos motivos dessa superstimação:

- Novela, folhetim: “Avenida Brasil” é, primeiramente, uma novela, derivada do folhetim e, portanto, segue essa característica à risca: vilã x mocinha e outros núcleos para adensar a trama, ainda que a mocinha não seja tão mocinha e a vilã idem.

- Tema: é uma trama de vingança. E quantas outras tantas novelas e livros já não trataram do tema: “Insensato Coração” com Norma (Glória Pires), “Chocolate com Pimenta” com Ana Francisca Mariana Ximenes, o seriado “Revenge” e até o clássico “O Conde de Monte Cristo”. Portanto, não é um tema diferente e muito menos mal explorado.

- Tem apelo popular: apesar de discordar veentemente do clichê “nova classe C”, que tem em praticamente todas as novelas, “Avenida Brasil” tem tipos populares que estão no imaginário das pessoas. Tem a piriguete (Suellen), o malandro (Leleco), o ex-jogador de futebol carismático (Tufão)... Sem falar nas empregadas Zezé e Janaína, engraçadíssimas e peças que movimentam de forma direta a trama Nina x Carminha.

- Trilha sonora mais popular ainda: de gosto duvidoso, sim, com alguns rompantes de qualidade. Mas é disso que a massa gosta!

- Elenco de primeira linha: a novela reúne estrelas do primeiro time da emissora, em papeis de vários níveis. Chama a atenção ea entrega da grande maioria do elenco, que mistura veteranos e jovens talentos.

Todos esses movitos já foram vistos em outras novelas, isso é um fato. O que faz então, de “Avenida Brasil”, um sucesso de crítica? Eis os motivos:

- Produção caprichada: nunca antes se viu, em uma novela das 9, uma fotografia e direção de arte de tamanha importância e qualidade. Com referências claras do cinema e seriados americanos, a fotografia ajuda a contar a história de maneira sem igual. É tudo muito bem cuidado, muito bem feito. Repare que na grande maioria das cenas os personagens centrais tem uma luz chiaroscuro. Explico: a técnica italiana renascentista aparece no rosto dos personagens mais densos, com metade clara e metade escura. Uma evidência de que todos os personagens – assim como a vida real – têm nuances de bondade e maldade. Junto a isso, tem a direção de Ricardo Waddington e Amora Mautner. Ótimos.

- Roteiro: João Emanuel Carneiro é, sem dúvida, o grande autor da nova geração. Roteirista de “Central do Brasil” e autor de “A Favorita” (2008), o escritor não precisava mais mostrar a que veio. Mas mostrou. “Avenida Brasil” é escrita de forma brilhante, diálogos costurados, inteligentes. É aí que reside a força da história de vingança já mostrada várias vezes, mas contada e dialogada de outra maneira.

- Força das redes sociais: o público da novela é majoritamente jovem, pois a trama é pesada. Os bordões (como o do título do post) e a "Nina em todos os lugares" viraram páginas no Facebook. Montagens e mais montagens são “tudo culpa da Rita”. Nunca antes foi vista uma mobilização em torno de um capítulo de número 100 de uma novela. A hashtag (só um exemplo) #OiOiOi100 foi tranding topic mundial no twitter – assim como o 101, 102, 103... Os avatares e planos de fundo dos usuários foram “congelados”, tal qual o final dos capítulos.

- Abrangência de público: a novela resgatou um público importante, mas preconceituoso até então. Os homens acompanham a novela tão quanto acompanham seriados (o que não consigo entender a diferença). Um público que talvez tenha percebido só agora que novela não é só “coisa de mulher e viado”. Mas isso é tema para outro dia.

- Concorrência fraca: as outras emissoras não tem o que mostar no horário. SBT e Record comem poeira.

“Avenida Brasil” pode até superar, por pouco, a antecessora (fraquíssima) “Fina Estampa” (do chato Aguinaldo Silva). Mas que é uma nova forma de fazer novela, ah, isso não tem dúvidas.


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