Caio Blat: obedece quem tem juízo (e continue produzindo). |
Polêmica à vista para atiçar os criadores de teorias
terroristas anti-Globo. O ator e produtor Caio Blat, dono de uma carreira
sólida na emissora – o último trabalho foi em “Morde e Assopra”, em 2011 – envolveu-se
numa discussão que ainda vai render.
Em 6 de maio, numa palestra na cidade de Suzano, Blat
desabafou. O vídeo caiu na rede e no YouTube, pelo canal da prefeitura de
Suzano. Disse que as idas em programas globais para divulgar os filmes não
passam de ações de merchandising e não apenas de cunho jornalístico. O que é
bem verdade, convenhamos. O pior estava por vir: “é uma coisa que me deixa
enjoado, horrorizado”. Palavras fortes para definir como a Globo e a Globo
Filmes se relacionam em pagamentos dessas ações. Apesar de estar dentro de uma
mesma organização, a Globo Filmes paga para a “patroa” Globo os “merchandisings”.
Caio Blat disse ainda que sem a Globo Filmes e a emissora, o
filme não “cresce”. Os produtores que não tem parceria com a Globo Filmes, não
tem divulgação nos programas da TV e são escondidos do público. Ou seja: as
obras “independentes” são excluídas pela emissora, afinal não foi o braço de
filmes dela que realizou/produziu/bancou.
Caio Blat arrependeu-se. Os sites publicaram hoje as “desculpas”.
O ator fez o pedido com uma carta endereçada à emissora. Segue um trecho:
“Acabei
avançando sobre temas dos quais não tinha conhecimento suficiente, misturei
questões pertinentes e importantes com outras tantas generalizações, e acabei
atingindo quem estava mais perto, ou seja, a Globo Filmes, parceira prioritária
do cinema nacional, de forma injusta”.
As desculpas vieram junto a um outro pedido para a
prefeitura de Suzano retirar o vídeo do ar. Num primeiro momento, a cidade
recusou-se a retirar o vídeo, já que estava “promovendo” a cidade mundo afora e
que era um vídeo institucional, “sem exploração da imagem do ator”. Depois,
Blat interviu judicialmente e o vídeo foi retirado. A essa altura, algo
praticamente impossível – logo alguém publica o vídeo novamente. Em alguns
sites, como o da revista Veja, a reportagem sequer existe (a página foi
apagada).
Blat continua o pedido de desculpas à Rede Globo:
“Resta
então uma atitude minha em relação a vocês, para expressar meu arrependimento
por ter levado esse assunto ao público, quando, devido ao longo relacionamento
que temos e a longa lista de grandes trabalhos realizados em parceria, devia
tê-los procurado pessoalmente para discutir quaisquer dúvidas que eu tivesse ou
mesmo levar minhas críticas, quando pertinentes. Deixo aqui meu pedido pessoal
de desculpas, e reafirmo meu compromisso com os projetos que temos em parceria
para futuros lançamentos e meu reconhecimento pelo trabalho generoso da Globo
Filmes na promoção do cinema brasileiro.”
As perguntas que ficam são: Caio Blat foi pressionado? A
Globo e o braço de filmes tem razão? O ator tem uma carreira consolidada na
emissora, de muitos anos. É compreensível que a Globo, como patroa, não se
sentiu confortável com a situação – que pode acontecer em qualquer empresa. É
sabido também que a produção nacional é totalmente global: a maioria dos atores,
diretores e produtores trabalham na emissora, o principal pólo de produção audiovisual
do Brasil. É no mínimo estranho o “reconhecimento pelo trabalho generoso” vindo
do ator que definiu a relação Globo/Globo Filmes como “horrorosa”.
Cabe aqui o ditado: manda quem pode e obedece quem tem
juízo. Blat poderia ficar sem produzir e até mesmo sem atuar se continuasse com
as reclamações. A Globo e os filmes continuarão faturando bilhões. E nós,
espectadores, continuaremos assistindo a filmes de qualidade questionável, com
humor mais questionável ainda – Bruno Mazzeo que o diga. Uma pena para os
brilhantes produtores que não se rendem à pressão, mas que produzem obras com
muito mais amor, arte e qualidade.
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