terça-feira, 31 de julho de 2012

O enjoo (já curado) de Caio Blat


Caio Blat: obedece quem tem juízo (e continue produzindo).

Polêmica à vista para atiçar os criadores de teorias terroristas anti-Globo. O ator e produtor Caio Blat, dono de uma carreira sólida na emissora – o último trabalho foi em “Morde e Assopra”, em 2011 – envolveu-se numa discussão que ainda vai render.

Em 6 de maio, numa palestra na cidade de Suzano, Blat desabafou. O vídeo caiu na rede e no YouTube, pelo canal da prefeitura de Suzano. Disse que as idas em programas globais para divulgar os filmes não passam de ações de merchandising e não apenas de cunho jornalístico. O que é bem verdade, convenhamos. O pior estava por vir: “é uma coisa que me deixa enjoado, horrorizado”. Palavras fortes para definir como a Globo e a Globo Filmes se relacionam em pagamentos dessas ações. Apesar de estar dentro de uma mesma organização, a Globo Filmes paga para a “patroa” Globo os “merchandisings”.

Caio Blat disse ainda que sem a Globo Filmes e a emissora, o filme não “cresce”. Os produtores que não tem parceria com a Globo Filmes, não tem divulgação nos programas da TV e são escondidos do público. Ou seja: as obras “independentes” são excluídas pela emissora, afinal não foi o braço de filmes dela que realizou/produziu/bancou.

Caio Blat arrependeu-se. Os sites publicaram hoje as “desculpas”. O ator fez o pedido com uma carta endereçada à emissora. Segue um trecho:

“Acabei avançando sobre temas dos quais não tinha conhecimento suficiente, misturei questões pertinentes e importantes com outras tantas generalizações, e acabei atingindo quem estava mais perto, ou seja, a Globo Filmes, parceira prioritária do cinema nacional, de forma injusta”.

As desculpas vieram junto a um outro pedido para a prefeitura de Suzano retirar o vídeo do ar. Num primeiro momento, a cidade recusou-se a retirar o vídeo, já que estava “promovendo” a cidade mundo afora e que era um vídeo institucional, “sem exploração da imagem do ator”. Depois, Blat interviu judicialmente e o vídeo foi retirado. A essa altura, algo praticamente impossível – logo alguém publica o vídeo novamente. Em alguns sites, como o da revista Veja, a reportagem sequer existe (a página foi apagada).

Blat continua o pedido de desculpas à Rede Globo:

 “Resta então uma atitude minha em relação a vocês, para expressar meu arrependimento por ter levado esse assunto ao público, quando, devido ao longo relacionamento que temos e a longa lista de grandes trabalhos realizados em parceria, devia tê-los procurado pessoalmente para discutir quaisquer dúvidas que eu tivesse ou mesmo levar minhas críticas, quando pertinentes. Deixo aqui meu pedido pessoal de desculpas, e reafirmo meu compromisso com os projetos que temos em parceria para futuros lançamentos e meu reconhecimento pelo trabalho generoso da Globo Filmes na promoção do cinema brasileiro.”

As perguntas que ficam são: Caio Blat foi pressionado? A Globo e o braço de filmes tem razão? O ator tem uma carreira consolidada na emissora, de muitos anos. É compreensível que a Globo, como patroa, não se sentiu confortável com a situação – que pode acontecer em qualquer empresa. É sabido também que a produção nacional é totalmente global: a maioria dos atores, diretores e produtores trabalham na emissora, o principal pólo de produção audiovisual do Brasil. É no mínimo estranho o “reconhecimento pelo trabalho generoso” vindo do ator que definiu a relação Globo/Globo Filmes como “horrorosa”.

Cabe aqui o ditado: manda quem pode e obedece quem tem juízo. Blat poderia ficar sem produzir e até mesmo sem atuar se continuasse com as reclamações. A Globo e os filmes continuarão faturando bilhões. E nós, espectadores, continuaremos assistindo a filmes de qualidade questionável, com humor mais questionável ainda – Bruno Mazzeo que o diga. Uma pena para os brilhantes produtores que não se rendem à pressão, mas que produzem obras com muito mais amor, arte e qualidade.

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