sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Brasil em tempo de novela


“Avenida Brasil” chega ao fim nesta sexta e, por mais que os conservadores-pseudo-intelectuais-docontra insistam em denegrir esse produto, essa novela é sem dúvida um marco na produção de teledramaturgia no país, quiçá no mundo.

A história criada por João Emanuel Carneiro remete a várias outras, como a série “Revenge”, o livro “O Pequeno Príncipe” e vários outros lidos mesmo na novela por Tufão (O Primo Basílio, O idiota, entre outros) e até mesmo à novela anterior de JEC, “A Favorita”. Diz o autor que Nina é cria da vilã Flora. Além disso, muitas referências ao cinema estão lá, como na cena em que Nina (Débora Falabella) é enterrada viva, assim visto em “Kill Bill”, do diretor Quentin Tarantino. E referências até às primeiras novelas de JEC, “Da Cor do Pecado” e “Cobras e Lagartos”. Créditos também à direção de Ricardo Waddington, Amora Mautner e José Luiz Villamarim, brilhantes na condução e execução das cenas.

Mas não se faz mais necessário discorrer sobre as tantas qualidades e os defeitos (ah, as fotos e o pen-drive pu então a pior cena da novela entre Monalisa e Silas sobre Ivana) de “Avenida Brasil”. Cabe agora, nesse momento em que o país fica na expectativa de saber o futuro de vários personagens, discutir sobre esse produto que é um mero entretenimento, por mais que digam o contrário.

Infelizmente ainda há o preconceito e a veemente fúria dos “conservadores” (para não dizer outra coisa) que insistem em dizer que novela é alienadora e prejudica a formação das pessoas. Aos machistas (que com certeza já viram um capítulo de “Avenida Brasil”, a mais machista das novelas), que acham que novela é coisa de “mulherzinha” ou de viado. Aos cultos, que acham que novela é sub-produto, inferior ao cinema e seriados (americanos, claro). É impressionante como um produto que é o mais rentável e de maior audiência na TV brasileira – veja só, os capítulos dão mais audiência que uma final de Libertadores – ainda é execrado e tido como menor, inferior, lixo. Os grandes jornais não podem falar do assunto, afinal a “elite conservadora” acha um absurdo, uma babaquice, uma “emburração”. Mas, porra, novela não é feita para ensinar ninguém. Não é instrumento de educação. Mas falar sobre filmes, cinema e seriados, pode. Vai entender...

É preciso entender que cada país tem um tipo de produção audiovisual. Se os americanos são reconhecidos pela produção cinematográfica e de seriados de sucesso, aqui o caso é com as novelas. O Brasil é o maior produtor de novelas no mundo, com inúmeras opções e qualidades. O que falta para tudo isso ser reconhecido como uma coisa boa? O complexo de vira-lata do brasileiro é recorrente em vários setores. A devoção ao que vem de fora é gritante e irritante. A desculpa de que “temos que nos preocupar com outras coisas” é pura falação. Afinal, o que falta para as novelas serem reconhecidas como um produto tão bom quanto filmes e seriados?

Por mais que a novela faça referência – e porque não, reverência – ao tipo americano de produção, com imagens, câmeras, enquadramentos, trilhas, visual, etc, ela ainda é tida como produto “pro povão”, que “não entende”, que quer consumir de graça, que é alienado e “não tem o que fazer”. E, veja só novamente, uma novela (Caminho das Índias) ganhou o Emmy Internacional (o Oscar da TV mundial) como melhor novela. A primeira novela das 11, “O Astro”, está concorrendo ao mesmo prêmio este ano. Mas ainda querem mais.

Acredito que um dia essa situação pode mudar e, aí sim, a novela pode ser acompanhada por cada vez mais e bons olhos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário