terça-feira, 2 de outubro de 2012

Os sambas da terra da garoa - parte 1


Assim como feito com os enredos, chegou a vez de falar dos sambas-enredo que as escolas de São Paulo levarão para a avenida em 2013*. A ordem aqui será da mais recente até a primeira escola a escolher o samba. Começo hoje com Águia, Vai-Vai e X-9 Paulistana:

*Lembrando que é uma opinião de quem escuta. APENAS uma opinião, sem desmerecer qualquer escola de samba.

- X-9 Paulistana: talvez a escolha mais surpreendente do ano e que gerou briga no anúncio do samba. Em vão. A escola da Parada Inglesa tem nas mãos um bom samba, um samba diferente, que foge dos versos e melodias manjadas que o carnaval de SP está viciado, inclusive os dois sambas da final. Apesar da melodia um pouco "para baixo", tem a letra linda. O samba pode crescer na voz de Royce do Cavaco. Um samba sem firulas, direto ao ponto, sem versos longos que poderiam ser resumidos em poucas e diretas palavras. Um acerto para a X-9, que tem um enredo fraco e que anda muito perdida nos últimos anos. 

- Vai-Vai: a escola do Bixiga teve uma das melhores eliminatórias do ano. O samba da comunidade caiu antes de chegar à semifinal e, na final, deu a lógica: a parceria de Zeca do Cavaco, que vence pelo terceiro ano seguido. Um ótimo samba, com a cara do Vai-Vai. O samba é curto, mas o refrão de cabeça é longo – e nem por isso menos bonito: são versos para entrar na história, como “Matriz, escola do povo / Respeite o meu pavilhão!”. É uma afirmação totalmente válida para a mais tradicional escola de SP. Apesar disso, o samba resume de maneira muito simples o enredo. O primeiro setor é cantado apenas nos dois primeiros versos do refrão, só para citar um exemplo. Isso poderá custar alguns décimos à escola, assim como em 2012.

- Águia de Ouro: uma das poucas a não fazer eliminatórias abertas, a escola da Pompeia só mostrou que essa é a melhor saída para o carnaval. A Águia de Ouro tem o melhor samba do ano. Não por acaso, com um dos melhores enredos do ano, também. João Nogueira será lindamente homenageado. O samba tem a assinatura do filho, Diogo, juntamente com parceiros que fazem sambas para a Portela. O samba tem versos de composições de João e Diogo, e a melodia foge dos padrões dos últimos anos. O samba brinca com a canção "Espelho", no conjunto de versos "ê vida boa / ê vida à toa / ê vida voa". O bis no final é de emocionar (“E o meu medo maior é o espelho se quebrar...”), assim como o refrão de cabeça (“Ninguém faz samba só porque prefere”). O único pesar fica para o refrão do meio, com seis versos um tanto longos e desnecessários (os dois últimos). Mas, “ê, vida boa”, ê samba bom!

A Águia foi a última a apresentar o samba e só faz mostrar que o concurso de eliminatória é só uma forma das escolas ganharem (MAIS) dinheiro. Uns brigam (como na X-9), outros aceitam, pois já ganhou vários sambas (Vai-Vai), outros porque tem a identidade da escola (Mocidade) e assim vai caminhando o carnaval paulistano. Enquanto houver eliminatórias, os sambas bons ficarão na memória de quem acompanha (Vai-Vai, Império, Nenê) e os sambas “de acordo com a sinopse” vão ganhando, com versos e melodias clichês, maneirismos, mesmos compositores. Isso só faz prejudicar a qualidade do samba paulistano. É só uma fase, assim espero. Mas, “ninguém faz samba só porque prefere”...

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