Gentili, que disse ser ex-crente, não tratou Feliciano como
um “senhor”, mas também teve momentos de extrema lucidez ao fazer perguntas que
qualquer outro jornalista faria. O presidente da (agora importante) Comissão de
Direitos Humanos e Minorias levou, aparentemente, numa boa as tiradas do
apresentador. Mas ainda assim, apesar de algumas coisas ficarem bem
esclarescidas, não concordo com sua postura e muito menos com sua permanência
no cargo.
Deixando de lado as denúncias que podem envolver seu mandato
– e consequente cassação – como deputado, a sua permanência na comissão (como
representante de uma minoria) é prejudicial à democracia do país. Vejamos: é
inadmissível um representante de uma minoria presidir este tipo de comissão.
Assim como um homossexual, um índio, um espírita ou qualquer outra minoria.
Apesar de o trabalho obrigatoriamente ser direcionado a todas, obviamente o
parlamentar ali presidindo vai “puxar sardinha” para seu público, afinal foi
através desses votantes que se chegou (indiretamente, mas chegou) ao cargo. Não
vejo o (mal educado, desbocado) deputado Jean Wyllys advogando em causa dos
evangélicos e deixando de lado suas convicções e lutas pelos direitos
homossexuais. Assim como Feliciano não vai abrir mão de suas convicções religiosas
para defender os gays e seus direitos.
Marco Feliciano defendeu seus ideais e propagou a imensidão
de pessoas que concordam com ele, uma auto-propaganda. Disse coisas que são
pertinentes: apesar de o brasileiro se dizer progressista, ainda é conservador.
Explicou toda a situação que envolveu sua escolha e deixou claro que é um
“tonto” nessa história. É errado culpá-lo por estar lá, já que não foi uma
escolha pessoal. Foi imposta. E mais: por causa de acordos políticos ele está
lá e o partido que o PSC apoiou nas eleições – o PT – hoje, dá as costas. Dilma
pode, com isso, perder o apoio político de uma minoria que é cada vez mais
grandiosa: o voto dos evangélicos.
Que fique claro: não concordo com sua permanência lá. Não
concordo com suas convicções. Mas muito me espanta a maioria das pessoas
criticarem um pastor evangélico por posições contrárias aos homossexuais, sendo
que o novo papa argentino Francisco disse, quando ainda era cardeal: “O
casamento gay é um movimento do diabo” e “Lutar contra o casamento gay é uma
guerra de Deus” (IstoÉ, ed. 2261, p. 51). Uma igreja omissa, que não se atualiza, mas mantém uma máscara. Pior ainda, não há nenhum tipo de
manifestação no mesmo nível de impacto, agressividade e falta de educação com
outras comissões sendo presididas por deputados corruptos. Não vi ninguém
berrando, se beijando, se esguelando, subindo no balcão, atacando, com faixas e
cartazes criticando essas afirmações da santidade máxima católica. É mais do que claro o preconceito contra evangélicos vindo de quem critica o preconceito destes contra gays, acusa de racismo, homofobia, etc. Complexo.
Aquela comissão de direitos humanos e minorias, que até
pouco tempo atrás (quase) ninguém sabia que existia, hoje é o alvo de um bando
de hipócritas, vindo de todos os lados, crenças e escolhas. A estrutura política
precisa mudar urgentemente para que possamos viver num país democrático, em que
todos tenham direitos e, acima de tudo, respeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário