Nova aposta da MTV, “A Menina sem Qualidades” é uma luz ao
que a dramaturgia brasileira pode oferecer.
E quem diria que, numa MTV em crise financeira e criativa
(já que suas maiores estrelas se espalharam por aí), apareceu uma das melhores
produções seriadas já vistas na tv aberta? “A Menina sem Qualidades” tem
qualidades que vão desde a menina do título, Ana, vivida por Bianca Comparato
(a Betânia de “Avenida Brasil”), passando pela trilha sonora e pelo restante do
elenco.
Foi uma opção arriscada – e um tanto errada – da MTV em
exibir primeiro o making-of e depois 30 minutos ininterruptos da trilha sonora
com um relógio em contagem regressiva na tela. Deveria ser o contrário, pois
quem zapeava pela tv poderia achar que era um problema ou que realmente a MTV
estava “mal das pernas” por não exibir absolutamente nada. A serie era
anunciada para as 23h e a MTV seguiu a cartilha da tv brasileira ao adiar um
programa por mais um tempo para – supostamente – segurar a audiência. Mas foi
uma escolha corajosa mostrar os bastidores antes de uma produção. Um
aquecimento, minado pelos 30 minutos ditos acima.
A historia gira em torno de Ana (Bianca Comparato), uma
garota de 16 anos, retraída, tímida e que acaba de chegar a um novo colégio de
classe média alta. Lá conhece Alex (Rodrigo Pandolfo), um estudante popular, mas
manipulador e acha que a vida é um grande jogo. Junto com o professor Tristán
(Javier Drolas), os dois embarcam – ela, por estar apaixonada e Alex por pura
diversão – num jogo psicológico com o professor e a situação foge do controle. É
um universo dos jovens de hoje, presos em celulares e computadores, com dilemas
e problemas que podem causar sérias e tristes sequelas.
Adaptação de um romance alemão que já ganhou versão para o teatro e um futuro filme, “A Menina sem
Qualidades” é dirigida por Felipe Hirsch, conhecido diretor de teatro. Apesar de a MTV divulgar que esta é a sua primeira minissérie, a emissora já tinha apostado
no formato (“Descolados”, 2009) em parceria com a Mixer. Desta vez, é uma parceria com os Estúdios Quanta.
A serie surpreende por tocar em assuntos vistos com receio
em outras produções. Devemos considerar que a MTV é feita para um público
segmentado, diferente daquele (mal) acostumado com sitcoms e novelas meia boca
que vimos por aí. A história é forte, põe o dedo na ferida de uma geração que
tem jovens que passam pelos mesmos problemas e nem de longe – mas a séculos de
distância – de “Malhação” que, por teoria, deveria tratar dos mesmos temas
(guardadas as devidas proporções de horários).
Bianca Comparato, com 27 anos, passa por uma menina frágil
tranquilamente. O recato da garota imprimido na atuação da atriz confere uma sensibilidade sem igual àquela frágil figura. A fotografia é cinza, pastel, melancólica como a personagem.
Não há grandes surtos de criatividade em enquadramentos ou iluminação, mas a
serie mantém a linguagem já manjada da câmera na mão e longos takes contemplativos aliados a uma trilha sonora incrível. Mas é
competente. O que foi visto no making-of é brilhante.
A espera de uma hora (making-of + trilha sonora) compensou
os 25 minutos de arte da serie. A história é tocante, o ritmo imprimido pela
direção nos faz fixar os olhos na tela e nos faz ficar ávidos por mais episódios.
Não lembro de ter visto algo do tipo na tv aberta. Infelizmente – ou felizmente
– caberá à MTV seguir essa linha, já que outras series estão programadas.
Demorará muito para que as grandes emissoras “abram a cabeça”
para exibir séries desse tipo.
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