terça-feira, 28 de maio de 2013

“A Menina sem Qualidades” e o sopro de renovação da MTV

Nova aposta da MTV, “A Menina sem Qualidades” é uma luz ao que a dramaturgia brasileira pode oferecer.

E quem diria que, numa MTV em crise financeira e criativa (já que suas maiores estrelas se espalharam por aí), apareceu uma das melhores produções seriadas já vistas na tv aberta? “A Menina sem Qualidades” tem qualidades que vão desde a menina do título, Ana, vivida por Bianca Comparato (a Betânia de “Avenida Brasil”), passando pela trilha sonora e pelo restante do elenco.

Foi uma opção arriscada – e um tanto errada – da MTV em exibir primeiro o making-of e depois 30 minutos ininterruptos da trilha sonora com um relógio em contagem regressiva na tela. Deveria ser o contrário, pois quem zapeava pela tv poderia achar que era um problema ou que realmente a MTV estava “mal das pernas” por não exibir absolutamente nada. A serie era anunciada para as 23h e a MTV seguiu a cartilha da tv brasileira ao adiar um programa por mais um tempo para – supostamente – segurar a audiência. Mas foi uma escolha corajosa mostrar os bastidores antes de uma produção. Um aquecimento, minado pelos 30 minutos ditos acima.

A historia gira em torno de Ana (Bianca Comparato), uma garota de 16 anos, retraída, tímida e que acaba de chegar a um novo colégio de classe média alta. Lá conhece Alex (Rodrigo Pandolfo), um estudante popular, mas manipulador e acha que a vida é um grande jogo. Junto com o professor Tristán (Javier Drolas), os dois embarcam – ela, por estar apaixonada e Alex por pura diversão – num jogo psicológico com o professor e a situação foge do controle. É um universo dos jovens de hoje, presos em celulares e computadores, com dilemas e problemas que podem causar sérias e tristes sequelas.

Adaptação de um romance alemão que já ganhou versão para o teatro e um futuro filme, “A Menina sem Qualidades” é dirigida por Felipe Hirsch, conhecido diretor de teatro. Apesar de a MTV divulgar que esta é a sua primeira minissérie, a emissora já tinha apostado no formato (“Descolados”, 2009) em parceria com a Mixer. Desta vez, é uma parceria com os Estúdios Quanta.

A serie surpreende por tocar em assuntos vistos com receio em outras produções. Devemos considerar que a MTV é feita para um público segmentado, diferente daquele (mal) acostumado com sitcoms e novelas meia boca que vimos por aí. A história é forte, põe o dedo na ferida de uma geração que tem jovens que passam pelos mesmos problemas e nem de longe – mas a séculos de distância – de “Malhação” que, por teoria, deveria tratar dos mesmos temas (guardadas as devidas proporções de horários).

Bianca Comparato, com 27 anos, passa por uma menina frágil tranquilamente. O recato da garota imprimido na atuação da atriz confere uma sensibilidade sem igual àquela frágil figura. A fotografia é cinza, pastel, melancólica como a personagem. Não há grandes surtos de criatividade em enquadramentos ou iluminação, mas a serie mantém a linguagem já manjada da câmera na mão e longos takes contemplativos aliados a uma trilha sonora incrível. Mas é competente. O que foi visto no making-of é brilhante.

A espera de uma hora (making-of + trilha sonora) compensou os 25 minutos de arte da serie. A história é tocante, o ritmo imprimido pela direção nos faz fixar os olhos na tela e nos faz ficar ávidos por mais episódios. Não lembro de ter visto algo do tipo na tv aberta. Infelizmente – ou felizmente – caberá à MTV seguir essa linha, já que outras series estão programadas.

Demorará muito para que as grandes emissoras “abram a cabeça” para exibir séries desse tipo.

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