segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Quem canta seus males espanta?



O CD dos sambas de enredo de São Paulo foi lançado e com ele os defeitos característicos de uma produção que fica a cargo da Liga e não de uma gravadora mais experiente. Por um dom divino, as faixas estão bem produzidas, um tanto uniformes, mas melhor do que nos últimos anos - e sem troca de posições como no encarte e na revista.




Os problemas ficam na “embalagem” que é entregue. Os erros no encarte e na revista são muitos para quem quer se mostrar um carnaval completo e competente. Troca de posições das escolas, ordens das escolas erradas (foto abaixo), erros de grafia, de português... Isso pode soar uma birra, uma politicagem nojenta e triste. Tudo isso obra de um designer que faz capas de gosto duvidoso há uns três anos, além dos vários erros já citados aqui. Mais absurdo ainda é saber que é obra de um integrante de escola de samba e, portanto, deveria saber do carnaval o bastante para não cometer esses tipos de erros.

Isso não é frescura. É ter profissionalismo e respeito a quem constroi o carnaval paulista. Além disso, a distribuição apenas em bancas e quadras das escolas é sofrível, impedindo (ou dificultando) o avanço do samba paulista em outras cidades. Como comparação – inevitável – o CD dos sambas cariocas é vendido até no iTunes. Sorte de quem acessa os sites de compartilhamento de arquivos, porém, prejudicando as escolas que deixam de ganhar uma grana com a venda. A seguir, uma rápida impressão dos sambas do grupo especial (já que foram ouvidos ao vivo várias vezes):

Um dos erros mais graves: na revista: o Império, que ficou em 11º, aparece em 12º na embalagem do cd, no encarte das letras dos sambas, no índice da revista e na ordem das matérias. A Dragões aparece em 7º na revista, o que está certo. Na embalagem do CD, em 8º. No disco, pelo menos, manteve-se a classificação correta.


Para repetir:
- Vai-Vai: o samba é um dos melhores do ano e Wander Pires começando com o alusivo “Vem novamente à disputa...” configura um início matador para um samba matador.
- Mancha: samba emocionante, com a interpretação irretocável de Fred Viana.
- Gaviões: Ernesto Teixeira volta aos bons tempos – talvez por ter composto o samba – e dá fôlego ao melhor samba dos Gaviões desde o retorno ao especial em 2008. O início da faixa mexe com os brios dos corinthianos, ainda mais depois da conquista do Mundial.
- Águia: o melhor – e mais diferente – samba do ano deve ser repetido várias e várias vezes. A bateria dispensa comentários: Mestre Juca tira uma cadência perfeita.

Que valem a pena:
- Tucuruvi: o samba bem-humorado aliado à interpretação de Igor Sorriso conferem ao samba uma leveza e balanço inexistentes em outros.
- X-9 Paulistana: a escola volta aos bons tempos com um samba de linda letra e Royce do Cavaco ótimo à frente dos trabalhos. O samba sai da mesmice e mostra que ainda há outros caminhos para o samba em São Paulo.

Para ouvir de vez em quando:
- Mocidade: o água-com-açúcar e eficiente de sempre (tirando 2012).
- Vila Maria: o básico. Não se pode esperar muita coisa de um samba mediano.
- Tom Maior: o samba melhorou em relação à eliminatória, mas ainda é um dos piores do ano.
- Império: se você quiser ouvir a faixa só por causa da bateria – novamente a melhor do cd – pode ouvir, até repetir. É o que essa bateria sabe fazer: mais que milagres, coisas surreais. Mas se quiser ouvir o samba, procure não dormir, especialmente na primeira passada (um motivo para pular a faixa, mas a bateria segura).
- Tatuapé: os gritos de Vaguinho comprometem o samba e este não foge do clichê das escolas que sobem ao especial no verso “é qualidade especial”.

Passa-faixa:
- Rosas de Ouro: mesmo com o milagre promovido por Darlan, o samba é um festival de clichês e frases prontas – feitas para “emocionar” (rs) – e um refrão sonolento, tão quanto o Império.
- Dragões: o samba mais passa-faixa do ano. Daqueles sambas que não vão fazer falta. Não mostra o que diz e Daniel Collete já viveu tempos melhores.
- Nenê: a letra é linda, mas a melodia... O samba é burocrático, longo e é inegável o esforço do intérprete Celsinho, que não tem culpa por uma escolha tão errada na águia guerreira.

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